terça-feira, 7 de outubro de 2008

Socorro só é eficaz se problema for bem dimensionado

Por Ayr Aliski
no Jornal do Brasil

No final dos anos 90, o governo brasileiro gastou R$ 20,4 bilhões para sanar a crise que ameaçava o sistema financeiro nacional. Sete bancos desapareceram entre o fim de 1995 e o início de 1997, e todos foram incorporados por instituições mais fortes, por meio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
Dados do BC comprovam o efeito de enxugamento promovido na metade final da última década. No final de 1993, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) contava com 1.065 instituições, caindo para 833 empresas ao final de 1998, ou seja, uma redução de 23,66%.
A crise do sistema financeiro nos anos 1990 tornou-se evidente com o fim da inflação. Instituições que operavam apoiadas no floating inflacionário perderam capacidade de atuar no novo cenário de estabilidade e estavam sob risco de falência. Apresentavam carteiras lotadas de ativos de alto risco. Sem liquidez e capacidade de cumprir compromissos, estavam prestes a deixar seus clientes a descoberto.
Frente ao risco sistêmico existente, o governo criou o Proer, para os bancos privados. Menos de um ano depois, surgia o Programa de Incentivo à Redução do Estado na Atividade Bancária (Proes), dirigido aos bancos estaduais.
O Proer criou uma linha especial de assistência destinada a financiar as reorganizações operacionais, financeiras e societárias. Estabeleceu também que nas fusões, a instituição em crise era dividida em duas, ficando com o Banco Central os ativos de má-qualidade e os créditos. O restante era vendido, ou seja, os bancos compradores assumiam os correntistas e os ativos de boa qualidade.
O economista Carlos Eduardo de Freitas foi diretor da Área Externa do BC entre 1985 e 1988. Acompanhou de perto o processo de fusões de instituições bancárias promovidas pelo Proer e pelo Proes.
– O resultado foi muito bom, o sistema financeiro foi preservado – diz ele.
Freitas alerta que eventual inoperância do governo poderia ter gerado um sistema de falências em cadeia, atingindo não apenas o sistema bancário, mas enfraquecendo toda a economia.
Segundo Freitas, em uma crise de tamanha dimensão, o dinheiro do contribuinte está comprometido. A diferença, destaca, é entre reordenar o mercado por meio de ações regulatórias ou correr o risco de desestabilizar toda a economia. Ele adverte que a falta de ação na contenção da crise de 1929 nos Estados Unidos gerou a recessão, com efeitos negativos durante uma década.
Segundo o economista, no entanto, não há como comparar a crise atual do sistema financeiro dos Estados Unidos com a que provocou a implantação do Proer.
– Nossa situação era mais simples, o governo agiu sobre problemas localizados, de forma cirúrgica. Nos Estados Unidos, há uma dificuldade para dimensionar o problema. A bolha estourou e espalhou o vírus para todo o organismo – diz.
O senador Marco Maciel (DEM-PE), vice-presidente da República na época de implantação do Proer, relembrou a implantação do programa de socorro ao sistema financeiro nos anos 1990. Em pronunciamento no Senado, Maciel disse que o programa evitou que fosse implantada uma crise de efeitos imprevisíveis e argumentou que as despesas de mais de R$ 20 bilhões com o Proer, cerca de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB), foram "relativamente baixas", tendo em vista que estancaram a crise.

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