sábado, 11 de outubro de 2008

Que Virgilio e Beatriz nos esperem

Trecho da reportagem da revista Veja que traz o presidente do Banco Central Henrique Meireles na capa:

Para desemperrar o mercado, o Banco Central brasileiro determinou a venda de 4 bilhões de dólares no mercado à vista, por meio de três leilões realizados ao longo do dia. À tarde, enquanto o remédio começava a fazer efeito, Meirelles encontrava-se no gabinete da presidência do BC em São Paulo. Um interlocutor mostrou a ele uma folha de papel em que, separadas por uma linha horizontal, estavam escritas as palavras "céu" e "inferno". Instado a mostrar em que ponto naquela linha se situava a economia brasileira, se mais perto do céu ou do inferno, o presidente do BC desenhou um X na metade do caminho. Insatisfeito com a resposta, diplomática demais, o interlocutor perguntou, então, para que lado os ventos empurravam o Brasil. Meirelles desenhou uma flecha em direção ao inferno. Esperou alguns segundos. Desenhou, então, uma segunda flecha, em sentido oposto, em direção ao céu. E riu. Foi sua maneira de ilustrar o que já vem dizendo há tempos: ao contrário da ciclotimia dominante, a verdade é que a economia brasileira não está à beira de ser varrida pela crise externa e nem 100% blindada contra ela. Tudo vai depender do sucesso de como será usado todo o arsenal de medidas preventivas e, claro, da serenidade das autoridades monetárias.

Falei sobre isso com minha mãe. Ela disse que o Brasil vai primeiro para o inferno e depois, quem sabe, para o céu. Falei sobre o livro Divina Comédia de Dante Alighieri. Como nada está definido por aqui, também não está definida a nossa ida para o inferno ou para o céu. Nem eu sei se Virgílio nos guiará pelo inferno ou se Beatriz nos esperará no céu.
Meses atrás o blog do Josias de Sousa anunciou que Henrique Meireles já estava pensando nas eleições estaduais de 2010 aqui em Goiás. Muita gente achou legal. Eu não. Eu disse que era preciso saber mais sobre a crise que assolava os Estados Unidos. Deu no que deu. Assim como Sócrates, todo mundo sabe que nada sabe. Ninguém sabe o dia de amanhã. E, para aqueles que comemoraram o furo de reportagem de Josias de Sousa, talvez seja melhor esperar mais um pouco. Sabemos como os investidores são traiçoeiros. Se Meireles deixa o Banco Central em 2010 ninguém sabe quem vai ocupar a cadeira vaga e qual rumo a economia tomará. No céu e no inferno eu não quero a companhia de nenhum investidor. Que Virgílio e Beatriz nos esperem.

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