sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Selic não cairá, apostam especialistas

Por Ayr Aliski
no Jornal do Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) não deve reduzir a taxa Selic, o juro básico da economia brasileira, na próxima reunião – que ocorre nos dias 28 e 29 de outubro – avaliam economistas. A Selic, principal instrumento de política monetária do governo, está atualmente no patamar de 13,75%.
O economista Bráulio Borges, da LCA Consultoria, avalia que eventuais alterações na Selic estarão diretamente associadas à taxa de câmbio. Ele acredita que o dólar voltará para cotações abaixo de R$ 2,00 dentro de pouco tempo. Ainda assim, não há previsão de queda da Selic.

Especulações

Anteontem, bancos centrais de sete países reduziram as taxas básicas de juros de suas economias em uma ação coordenada, e inédita, o que agitou o cenário interno brasileiro, gerando especulações sobre uma possível queda da Selic, a ser tomada em reunião extraordinária do Copom. O governo desmentiu a possibilidade de adotar a medida. O Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a comentar que o Brasil estaria pronto para reduzir os juros dentro de poucos meses. No cenário nacional, as análises não são tão otimistas. O economista Alfredo Meneghetti, da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE/RS) não acredita em queda da Selic e aposta em maior rigor fiscal.
O dólar voltou a cair anteontem, principalmente depois de o Banco Central leiloou a moeda estrangeira. Isso confirma a aposta de Borges, que não acredita em movimento sustentado da alta do dólar. A mesma análise tem Carlos Tadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central. O economista da LCA Consultoria aposta que a moeda norte-americana oscilará na faixa entre R$ 1,70 e 1,90, entre novembro e dezembro. Ele comenta dados que indicam não haver motivos para a tão acentuada depreciação do real: ingressos de US$ 2,8 bilhões no país em setembro e de US$ 500 milhões nos três primeiros dias úteis de outubro.
Para Borges, a corrida ao dólar não reflete os fundamentos da política econômica e cambial brasileira. Por isso, prevê, a moeda norte-americana deve recuar. As reservas internacionais, destaca ainda, continuam crescendo, atingindo US$ 208,4 bilhões em 4 de outubro, contra US$ 205,2 bilhões, no dia primeiro de setembro.
Mas caso se mantenha o cenário de dólar caro e preços das commodities em baixa, seria necessário até mesmo promover alta dos juros, para não haver o risco de a alta do câmbio contaminar a inflação. Para o atual momento, avalia Borges, o governo está agindo com cautela.
– Quando a reunião do Copom ocorrer, no final de outubro, ainda estaremos no olho do furacão – afirma. Se o dólar não recuar, aí sim haverá alta de juros. – Se ficar entre R$ 2,10 e R$ 2,20, aí o BC vai começar a elevar juros – diz Borges, que acredita que o BC demorou muito para atuar diretamente no mercado de câmbio, o que permitiu a escalada das cotações.
Para Freitas, embora as últimas medições do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenham demonstrado algum repasse da alta do dólar aos preços dos bens duráveis, ainda não justifica alta do juro para conter inflação.
– Outros países estão baixando juros por problemas de liqüidez – diz o economista – O ex-diretor do BC não concorda que haverá manutenção do câmbio elevado, com o dólar caro dos últimos dias. – Não está artificial? Não há fundamentos para o dólar ficar acima de R$ 2,00.
Para ele, a atuação firme do BC no mercado de câmbio – o que tem se delineado nos últimos dias – eximirá essas oscilações. Com o dólar voltando para abaixo de R$ 2,00, acaba o risco de inflação de câmbio. Mas também não haverá espaço para baixar a Selic, mesmo com projeções de mercado que indicam retração do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano: – Se o BC ficar preso à meta de inflação de 4,5%, poderá até voltar a elevar juros – diz.
Meneghetti não acredita em queda da Selic. Segundo ele, o Brasil manterá o compromisso de cumprir a meta de inflação em 4,5% em 2009 e, para atingir o objetivo, não reduzirá o juro básico da economia:
– Deverá manter ou aumentar o juro, podendo chegar ao final do ano em 15% – diz. Ele aposta num possível aumento dos gastos públicos e aperto na política fiscal para amortecer os efeitos da crise.
No Brasil, o Banco Central chegou a adotar no passado o mecanismo de indicar viés para a Selic, ou seja, resguardava-se para alterar o juro antes de nova reunião do Conselho de Política Monetária. Março de 2003 foi a última vez em que o Copom utilizou o mecanismo, indicando viés de alta para uma Selic de 26,5%, mas não lançou mão da opção, e manteve a taxa.

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