sexta-feira, 10 de outubro de 2008

PF investiga delegados suspeitos de vazar dados

Por Vannildo Mendes
no Estado de São Paulo

A Polícia Federal abriu um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para investigar o suposto envolvimento de dois delegados da cúpula do órgão com o vazamento de dados sigilosos da Operação Navalha. Renato Porciúncula, ex-diretor da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), e Emmanuel Balduíno, ex-chefe da área de contra-inteligência, seriam os propagadores de boatos contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Deflagrada em maio de 2007, a operação prendeu 48 pessoas, entre elas o empresário Zuleido Veras, dono da construtora Gautama, acusado de chefiar um esquema de fraudes em licitações. Foi solto por habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes. Logo depois, o presidente do STF teve seu nome divulgado em uma lista de supostos beneficiários de presentes da Gautama. O verdadeiro Mendes, porém, era um empresário baiano homônimo. O ministro acusou a PF de má fé e pediu ao Ministério Público que investigasse vazamentos. O PAD foi aberto em 1º de outubro e corre em sigilo. Se comprovada a denúncia, os delegados podem sofrer punições que vão da advertência à suspensão ou demissão do cargo. A operação foi uma das maiores da gestão do delegado Paulo Lacerda, que deixou a direção da PF em setembro de 2007 para assumir a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de onde acabou afastado, em julho, sob acusação de envolvimento no escândalo dos grampos ilegais da Operação Satiagraha. Porciúncula, braço direito de Lacerda na Abin, também foi afastado. Sem prazo para ser concluído, o PAD está sob a responsabilidade do delegado Manoel Trajano. A investigação foi determinada pelo corregedor-geral da PF, delegado José Ivan Lobato, a partir de uma representação do juiz baiano Durval Carneiro Neto, que comandou a primeira fase da Operação Navalha. O PAD só é aberto quando, na fase preliminar (a sindicância), são levantados indícios contra os acusados. "É um equívoco do juiz, ele tem de se dirigir a quem podia emitir atos de ofício e tinha competência para investigar", esquivou-se Porciúncula, jogando a responsabilidade para seu auxiliar, Emmanuel, titular da Operação Navalha. O delegado disse que já foi notificado da acusação e aguarda ser convocado para se defender com tranqüilidade. Procurado, Emmanuel não foi localizado para comentar a acusação.

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