domingo, 13 de janeiro de 2008

Vínculo com guerrilha põe em risco os laços entre Chávez e Colômbia

Por Ruth Costas
no Estado de São Paulo

Há algum tempo as boas relações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) vêm incomodando o governo do líder colombiano, Álvaro Uribe. Agora, o modo como Chávez tenta promover uma aproximação com o grupo em favor de um acordo humanitário ameaça transformar a questão numa grave crise diplomática entre os dois países. Na semana passada, as tensões chegaram ao seu ápice quando o líder venezuelano se disse disposto a normalizar as atribuladas relações com a Colômbia, mas exigiu em troca que Bogotá reconheça as Farc como “força beligerante” em vez de “grupo terrorista”. “Eles têm um projeto político bolivariano que é respeitado aqui (na Venezuela)”, disse Chávez. A resposta não demorou: “Os grupos violentos da Colômbia são terroristas porque se financiam com o narcotráfico, seqüestram, usam bombas de forma indiscriminada, recrutam e assassinam crianças, idosos e mulheres grávidas”, rebateu o porta-voz do gabinete de Uribe, César Mauricio Velásquez.A defesa vigorosa da guerrilha já havia reacendido as suspeitas sobre os laços dos rebeldes com Chávez. Autoridades e especialistas colombianos acusam o país vizinho de permitir que os guerrilheiros se refugiem em seu território e de transformar-se num narco-santuário para as Farc. “É pouco provável que Chávez ajude a guerrilha de forma direta, com dinheiro ou armas, porque isso seria extremamente arriscado”, diz César Restrepo, pesquisador da Fundação Segurança e Democracia, em Bogotá. “Por outro lado, há cada vez mais indícios de que, em nome da coincidência ideológica, o venezuelano faz vista grossa à ação dos rebeldes em seu território.” Segundo entidades internacionais de combate às drogas, a Venezuela aumentou a sua participação nas principais rotas do narcotráfico - uma das principais fontes de financiamento da guerrilha - mundial nos últimos anos. Hoje, vem da Venezuela 80% da cocaína que chega à Espanha, importante porta de entrada da droga para a Europa, de acordo o Centro de Informações sobre o Crime Organizado (Cico), ligado ao governo desse país. A DEA, agência antidrogas dos EUA, também estima que o volume de cocaína que passa por território venezuelano rumo aos mercados de países desenvolvidos tenha aumentado 500% desde que Chávez chegou ao poder. “Tudo isso é verdade: o Exército colombiano não cruza a fronteira e a guerrilha tem um pacto de não-agressão com militares venezuelanos”, disse recentemente um ex-guerrilheiro desmobilizado ao jornal espanhol El País. “O governo Chávez deixa as Farc operarem livremente porque compartem a mesma ideologia e porque a guerrilha paga suborno para a sua gente.” Há cerca de três anos, a revolta do governo colombiano com a situação o levou a uma medida extrema. No final de 2004, Bogotá pagou policiais venezuelanas para seqüestrar em Caracas o “chanceler” das Farc, Rodrigo Granda, e o levassem até a fronteira - abrindo uma crise diplomática. No ano passado, foi o chanceler colombiano, Fernando Araújo, refém das Farc por seis anos, que causou desconforto nas relações com a Venezuela ao afirmar que os guerrilheiros tinham em Chávez uma fonte de inspiração. “A guerrilha que eu conheci vê no presidente venezuelano um líder ideológico”, disse Araújo, que teve de pedir desculpas a Caracas após levar um puxão de orelha de Uribe. Para o cientista político Alfredo Ramos Jiménez, da Universidade dos Andes, em Mérida, o fato de Chávez arriscar as relações com um parceiro tão importante para seu país não surpreende. “Chávez mantém uma mentalidade típica da Guerra Fria, vendo nas Farc um grupo idealista e ignorando suas conexões com o narcotráfico e agressões aos direitos humanos.”

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