domingo, 13 de janeiro de 2008

A situação era tão boa ou Panis et circenses

Até pouco tempo atrás o Estado de Goiás era uma maravilha. O Tempo Novo havia modernizado, melhorado, ampliado, enfim, adjetivos não faltavam para as propagandas que Marconi Perillo colocava na televisão ou imprimia nos jornais. Eu lembro destas propagandas. Eram tantas obras, tantas coisas que o Tempo Novo havia feito. Em 2006, Marconi deixou o Palácio das Esmeraldas mais cedo para se candidatar a uma vaga no Senado. Sua vitória era só uma questão de tempo. Quem era Aldo Arantes para barrar a candidatura de Marconi? O povo de Goiás iria retribuir a quantidade de benefício que o Tempo Novo havia feito desde 1999.
Saiu Marconi quem entrou no lugar foi Alcides Rodrigues, o popular Cidinho. Ele era vice de Marconi. Tinha o estilo Marco Maciel: discreto, assumia o cargo quando o governador viajava e retornava para o seu canto quando o a viagem chegava ao fim. Cidinho assumiu o cargo já pensando nas eleições de outubro daquele ano. Ele não seria eleito. Muito mais que isso. Seria reeleito, afinal, já era governador. Ao contrário de Marconi, que deixou o governo com a certeza da vitória, Cidinho não tinha tanta certeza assim. Era o reflexo do seu estilo Marco Maciel de ser vice. Se tivesse se intrometido mais no governo, quem sabe alguma polêmica como faz o vice José Alencar, o povo goiano já não o conheceria um pouco mais? Nada como fazer uma boa campanha e ganhar, mais uma vez, do PMDB, do Tempo Velho, daquela panelinha que mandou e desmandou em Goiás até 1998. Cidinho iria disputar a vaga de governador com Maguito Vilela. É claro que Maguito saiu na frente quando as primeiras pesquisas de intenção de voto foram divulgadas. Mas Cidinho era brasileiro e não desistiria nunca. Cidinho era do Tempo Novo e tinha que colar sua imagem neste tempo de prosperidade. Tinha que se juntar a Marconi Perillo. Já que o ex-governador seria eleitor senador facilmente (quem era Aldo Arantes para conter a “Perillomania”?) Cidinho colou seu nome e sua imagem à Marconi. Mostrou nas propagandas eleitorais que as melhorias do Tempo Novo também tinham sua participação. Mal o povo sabia que as contas do Estado estavam no vermelho. Nada como uma boa propaganda, né Jorcelino Braga? Cidinho era governador e candidato à reeleição. Ele sabia dos problemas financeiros. Mas, o Tempo Novo tinha que ganhar do Tempo Velho mais uma vez. E ganhou. Valeu colar a imagem de Cidinho em Marconi. Maguito amargava sua segunda derrota consecutiva. Ele tentou colar sua imagem à Lula, mas não lhe garantiu a vitória. Garantiu uma vaga na vice presidência do Banco do Brasil. Que beleza! Só para Maguito.
Ao tomar posse pela segunda vez, Cidinho tirou a máscara que o marqueteiro Jorcelino Braga havia colocado. Não era o mesmo Cidinho da campanha. Acabou-se o otimismo. A crise era geral. Crise? No Tempo Novo? Isso mesmo! Cidinho baixaria decretos para conter a crise financeira, os gastos excessivos. Ué, mas isso não estava na campanha eleitoral. O que Cidinho mostrou foi as melhorias, os benefícios, as ampliações, tudo de bom que o Tempo Novo havia feito e que ele havia se comprometido em continuar. O que os políticos não fazem para se reeleger. Escondem tudo debaixo do tapete em época de eleição. Cidinho sabia sim da crise financeira e ficou calado. Minha mãe sempre fala que o pior pecado é o da omissão. Cidinho omitiu. Marconi omitiu. O Tempo Novo era tudo mentira. Foi um golpe de marketing. O que seria do Tempo Novo se não fossem aquelas propagandas? O sonho acabou. Cidinho mostrava a cada dia da sua segunda administração as falhas, os equívocos do tempo que ele ajudou a construir. As promessas eleitorais foram esquecidas. Tinha que cortar tudo e todos. Tinha que fazer uma reforma. Uma reforma administrativa. Ué, mas o Tempo Novo não veio para reformar? Não veio para fazer o novo? Quer dizer que o novo ficou velho e, por isso, precisa de uns ajustes? O Tempo Novo acabou. Goiás fracassou. Fomos enganados por essa gente nestes nove anos. Cobrar do Nerso da Capetinga que tão bem soube satirizar o “PMDB de Íris Rezende”? Ninguém quer assumir a culpa pela crise, que quebra, pela falência do Estado de Goiás. Nem o Tempo Novo e muito menos o Tempo Velho. Marconi e Maguito soltaram relatórios tentando provar que nenhum dos dois era culpado. Em pensar que a situação era tão boa. Em pensar que este tal de Tempo Novo fez tantas coisas. Caímos na piada do Nerso da Capetinga. Caímos no conto do marqueteiro de Jorcelino Braga. Aliás, Jorcelino é o todo poderoso do governo Cidinho. Quem me garante que a reforma administrativa, comandada por ele, não é só um golpe de marketing? A situação era tão boa... Cidinho acabou com a nossa alegria. E o seu silêncio, a sua demora em tomar decisões para acabar com a crise financeira só prova que ele continua se omitindo. A situação era boa demais para ser verdade. E, como diz o ditado: “Alegria de pobre dura pouco”. Panis et circenses. Eu também queria cantar minha canção iluminada de Sol. Mas, tenho que economizar, cortar gastos para garantir a comida das pessoas da sala de jantar lá do Palácio das Esmeraldas.

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