quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Lula participou da operação que resultou na licença de Renan

Vera Rosa


BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da operação política que resultou no afastamento do senador aliado Renan Calheiros (PMDB-AL) por 45 dias. Foi Lula quem pediu ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ainda na quarta-feira, para buscar uma saída negociada com Renan a fim de distensionar o ambiente no Congresso e salvar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).


O afastamento de Renan foi decidido poucas horas depois, à noite, em reunião com amigos e correligionários, na residência oficial do Senado.

Naquele dia, Lula recebeu a informação de que a situação de Renan era insustentável. "Chegou ao limite, presidente", afirmou Jucá, levado ao gabinete do presidente pelo ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. "Com esse clima beligerante, não temos como aprovar a CPMF".

A idéia inicial, que passou pelo crivo do Planalto, previa uma licença maior para Renan, até o fim do ano - com o objetivo de facilitar a votação da emenda que prorroga a CPMF. O presidente do Senado, porém, resistiu.

Acuado, Renan chegou a dizer a Lula que não poderia se ausentar por tanto tempo porque perderia as condições de se defender das denúncias. "Querem a minha cadeira", afirmou. Em todas as conversas, o presidente licenciado do Senado deixou claro que também não confia no PT, que assumirá a cadeira interinamente, com Tião Viana (PT-AC).

No Palácio do Planalto, os articuladores políticos do governo esperam que a licença de Renan, mesmo por um prazo inferior ao desejado, possa serenar os ânimos. Com sinal verde do governo, Jucá tentou negociar com a oposição, ainda na quarta-feira, uma saída honrosa para Renan. Não conseguiu. A proposta apresentada ao DEM e ao PSDB previa que o senador alagoano se afastasse do comando da Casa para ter o mandato preservado. A oposição, no entanto, rejeitou o acordo.

Diante do impasse, Jucá, o senador José Sarney (PMDB-AP) e o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB) , que passaram o dia em missão de conselheiros, reuniram-se com ele, à noite, para encontrar uma solução. Teotônio atuou como conselheiro e amigo. Jucá mostrou a Renan a contabilidade antes apresentada a Lula: se permanecesse no cargo, a emenda que prorroga a CPMF até 2011 corria sério risco de não ser aprovada até dezembro. Além disso, ele não teria mais do que 20 votos entre os 81 senadores para tentar salvar o seu mandato.

Enquanto senadores convenciam Renan a se afastar, Mares Guia atuava para jogar água na fervura do Senado. Acompanhado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sondou o senador Marco Maciel (DEM-PE), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sobre a possibilidade de cumprir o calendário, votando o relatório da CPMF até novembro. Maciel não disse nem sim nem não. "A CPMF foi um imposto criado para ser provisória e virou permanente", afirmou. Mantega pegou um atalho, na tentativa de salvar o imposto do cheque: "Não se preocupe, porque vem aí a reforma tributária."

Na tentativa de engordar a base aliada para votar a CPMF, o governo também continua assediando senadores da oposição. Ainda ontem, Mares Guia conversou com o senador Demóstenes Torres (DEM-DF). Oficialmente, o assunto foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Eu não vou sair do DEM", garantiu Demóstenes, em tom de contrariedade. "Mares Guia me recebeu depois de dizer duas vezes que não podia, porque estava enrolado com a CPMF", disse.
Estadão online - 11.10.2007

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