sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A epidemia de dengue

Editorial do Estado de São Paulo de hoje

No lançamento da campanha nacional de combate à dengue, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou que o Brasil vive nova epidemia da doença, o que ele considera “injustificável” e “inadmissível”. Entre janeiro e setembro, o total de casos registrados aumentou 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 481,3 mil pessoas infectadas - 1.076 contraíram dengue hemorrágica - e 121 mortes. Até o Estado mais rico da Federação, São Paulo, vive o maior surto de dengue da sua história. São 64.310 casos registrados no período. O mosquito foi encontrado em mais da metade dos municípios paulistas.A explosão de casos em todos os Estados, ocorrida mesmo nos meses de inverno, é preocupante. Em setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que o surto de 2007 poderia superar a marca de 2002, ano em que o Brasil registrou número recorde de casos - 800 mil notificados. Para a OMS, o problema da dengue só pode ser resolvido com profunda mudança na infra-estrutura sanitária do País. “Não adianta lançar campanhas de conscientização quando o surto já está ocorrendo. Isso serviria apenas para evitar que o fogo se espalhe. É preciso evitar que o fogo comece”, afirmou, em junho, ao Estado, o especialista em dengue da OMS, Renu Dayal-Drager.[DO RIO]Para evitar o início do incêndio, todas as esferas de governo do País há anos deveriam estar empreendendo ações conjuntas dos seus organismos responsáveis pela saúde pública, envolvendo educação, infra-estrutura (especialmente saneamento), planejamento urbano, meio ambiente, atendimento social, etc. Mas não houve ação conjunta e o incêndio está lavrando. Mesmo neste ano, quando a [/DO RIO]doença não deu trégua durante os nove primeiros meses, somente agora, com o calor chegando e a proximidade de fortes chuvas, condições propícias para a proliferação do mosquito, a campanha de mobilização nacional para o combate à dengue é lançada. A conscientização deve ser constante, assim como o efetivo combate ao mosquito. O hábito de extinguir criadouros precisa ser cultivado e mantido, tanto entre a população quanto entre as autoridades. É necessário ensinar à população que eliminar focos de insetos deve fazer parte da limpeza diária das casas. Às autoridades cabe a tarefa de eliminar sistematicamente, durante o ano inteiro, os macrocriadouros em ambientes urbanos, que surgem sempre nas construções não fiscalizadas e nas lajes dos prédios industriais.Mas é preciso também incentivar a pesquisa e adotar tecnologias de eficácia comprovada pelas universidades para erradicar definitivamente o mosquito. O Aedes aegypti chegou a ser erradicado do País em fins da década de 50, quando os recursos eram muito menores do que hoje. Sem ações de controle, no entanto, o vetor voltou a proliferar. Em 1973, nova erradicação foi alcançada com a aplicação de inseticida de efeito residual nos reservatórios domiciliares. Com o crescimento acelerado das cidades, no entanto, as autoridades federais abandonaram a técnica e passaram a recomendar apenas o controle do mosquito. O que continua até hoje.Cientistas da Universidade do Sul de Santa Catarina e da Universidade Federal de Pernambuco trabalham no desenvolvimento de inseticida que mata as larvas do mosquito Aedes aegypti. Na Universidade Federal de Minas Gerais foi apresentada, em 2006, nova forma de monitoramento dos criadouros do mosquito, que facilita o mapeamento das áreas de risco. Em novembro, o sistema foi escolhido entre 280 projetos de 58 países para receber o prêmio Tech Awards, que tem apoio de empresas como Microsoft, Intel e HP, entre outras. Larvicidas biológicos, mosquitos geneticamente modificados, esterilização do macho por irradiação de cobalto, utilização de genes letais, entre outros avanços da ciência, têm sido desenvolvidos no Brasil com o objetivo de erradicar a doença. Apoiar esses grupos de pesquisadores e utilizar o que já existe, modernizando o combate ao mosquito, é fundamental para obter melhores resultados.

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