sábado, 20 de outubro de 2007

Bird alerta países para riscos da produção de biocombustíveis

por Rolf Kuntz
no Estado de São Paulo de hoje

A produção de biocombustíveis pode ser um sucesso no Brasil, descrito como ''''o produtor mais competitivo'''', mas, com a atual tecnologia, é um negócio duvidoso para a maior parte das outras economias em desenvolvimento, segundo o Banco Mundial (Bird). Poucos programas são economicamente viáveis, segundo o banco, e a maior parte pode ter efeitos sociais e ambientais indesejáveis: comida mais cara, maior competição por terra e água e, ''''possivelmente'''', devastação de matas''''.O Brasil se diferencia também por algumas cooperativas produtoras de etanol terem assegurado a participação de pequenos proprietários, embora a fabricação de álcool geralmente envolva grandes economias de escala e integração vertical da produção.Muita cautela com as políticas de biocombustíveis é a mensagem principal da análise incluída no Relatório do Desenvolvimento Mundial, divulgado ontem pelo Bird e apresentado por seu economista-chefe, François Bourguignon. A maior parte do relatório é dedicada a um tema central, desta vez Agricultura para o Desenvolvimento.Um capítulo inteiro trata da reforma do comércio e das políticas de preços e subsídios. ''''É preciso concluir, com urgência, a Rodada Doha de negociações comerciais, especialmente para eliminar distorções, tais como os subsídios americanos ao algodão, prejudiciais aos países mais pobres'''', diz o estudo.A subvenção média aos produtores agrícolas do mundo rico diminuiu de 37% do valor bruto da receita em 1986-88 para 30% em 2003-2005, mas o dinheiro desembolsado pelos governos aumentou de US$ 242 bilhões para US$ 273 bilhões por ano. Os preços aumentaram, mas o montante de subsídios não foi congelado.Segundo o documento, o crescimento da produção agrícola nos países em desenvolvimento poderia passar dos atuais 3,9% ao ano para 4,2%, em média, se houvesse uma completa liberalização. O ganho médio seria de 0,3 ponto porcentual, mas chegaria a 2 pontos para a América Latina, a principal beneficiaria das mudanças.Na hipótese de completa eliminação de subsídios e barreiras, os aumentos de preços ficariam entre o máximo de 20,8% para o algodão e o mínimo de 1,9% para óleos e gorduras vegetais. Mas sementes oleaginosas poderiam valorizar-se 15,1% e a carne processada, 4,3%.O Brasil seria um dos principais beneficiários, por ser competitivo na produção de bens agrícolas sujeitos a elevada proteção nos principais mercados, como açúcar, sementes oleaginosas e carne.Os ganhos efetivos, no entanto, serão menores que os estimados com base nessa hipótese, ressalvam os autores, porque um acordo na rodada produzira apenas a eliminação parcial dos subsídios e barreiras. ''''A rodada enfatiza mais a eliminação de subsídios à exportação e o corte de subsídios internos do que a redução de tarifas aduaneiras tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.''''O trabalho é dedicado principalmente ao tema da redução da pobreza e capta mal certas características do Brasil. Há referências frequentes à modernização da agricultura e à posição singular do país no mundo em desenvolvimento, pela ênfase na pesquisa agropecuária.Também se mencionam os efeitos ambientais da expansão da soja no cerrado, com a inclusão, entre 1999-2000 e 2004-2005, de uma área de 54 mil quilômetros quadrados, maior que a Costa Rica. Na Argentina, o ambiente ''''altamente ameaçado'''' é o Chaco.Apesar da modernização agrícola, ainda há pobreza no campo brasileiro, segundo o estudo, ''''porque o emprego rural diminuiu e se orientou para trabalhadores de maior qualificação, porque a atividade se tornou mais intensiva em capital''''.O estudo, no entanto, não considera os ganhos sociais da produção mais eficiente. Mais de 80% dos brasileiros vivem nas cidades e hoje pagam pela comida muito menos do que há duas décadas, podendo gastar mais noutros itens. Confrontado com essa observação, o economista Alain de Janvry, um dos coordenadores do relatório, respondeu: ''''O senhor está certo. Essa questão será examinada noutro estudo.

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