sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Suspeito de patrocinar emendas para empresa fria, Renan sofre 6ª denúncia

Rosa Costa
do Estado de São Paulo de hoje

Afastado há uma semana da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) tornou-se alvo ontem de mais uma representação por quebra de decoro parlamentar. Com base em reportagem do Estado, o PSOL protocolou a sexta denúncia contra ele, desta vez por suposto uso do cargo para destinar recursos a empresa fantasma de um ex-assessor. Na representação, é acusado de praticar crimes de exploração de prestígio, tráfico de influência, intermediação de interesses privados, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha. “Infelizmente essa fixação do senador de praticar crime contra a administração pública nos obriga a entrar com outra representação”, justificou a presidente do partido, ex-senadora Heloísa Helena (AL), referindo-se aos R$ 280 mil destinados à KSI Consultoria e Construções Ltda, uma empresa fantasma de seu ex-assessor José Albino Gonçalves de Freitas - esses recursos saíram de uma das emendas de Renan ao Orçamento da União.Segundo revelou o Estado no domingo, a KSI recebeu o dinheiro para construir 28 casas em Murici, cidade da família Calheiros, pelo programa de combate à doença de Chagas. O convênio assinado entre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a prefeitura de Murici se sustentava em recursos de uma emenda de Renan ao Orçamento de 2004. A última parcela do convênio, equivalente a R$ 56 mil, acabou de ser liberada para a prefeitura. A empresa criada em 2001 por Albino, na prática, não saiu do papel. A reportagem apurou que, ainda assim, a KSI foi beneficiada com contratos em outras prefeituras no interior de Alagoas.“A matéria mostra a triangulação perfeita na articulação do Executivo, Legislativo e setor empresarial para pagar propina com dinheiro público patrocinando crimes contra a administração pública”, afirmou a ex-senadora, após protocolar a representação na Secretaria-Geral da Mesa, ao lado dos três deputados do partido: Chico Alencar (RJ), Luciana Genro (RS) e Ivan Valente (SP). “Todas as provas estão disponibilizadas abaixo e esperamos que essas denúncias possam ser utilizadas como parte dos procedimentos já instalados ou como uma nova representação”, justificou Heloísa Helena.LOBISTADas seis representações de que foi alvo até agora, Renan conseguiu ser absolvido pelo plenário do Senado da primeira - era acusado de ter despesas pessoais com a jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento, pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior. Mas, além da nova denúncia apresentada ontem, ele ainda enfrenta outros quatro pedidos de investigação no Conselho de Ética. Num deles, é acusado de favorecimento à cervejaria Schincariol perante a Receita Federal e o INSS em troca da compra superfaturada de uma fábrica de refrigerantes de sua família. Há o pedido de apuração da suposta compra de duas rádios e um jornal em Alagoas por intermédio de laranjas. Em outra representação, também é acusado no suposto esquema de coleta de propina em ministérios do PMDB. E, por fim, é apontado como patrocinador da espionagem de dois senadores da oposição, por intermédio do ex-assessor da presidência do Senado Francisco Escórcio. O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), ainda não indicou relator para esta representação.

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