sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PT já teme os efeitos da crise financeira

Por Marcelo de Moraes
no Estado de São Paulo

Preocupados com os efeitos políticos da crise econômica internacional, parlamentares do PT já trocam idéias com os principais integrantes do governo federal para enfrentar o problema e impedir o crescimento do discurso de oposição dentro do Congresso. A maior preocupação dentro do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é evitar que haja queda acentuada no nível de emprego nos próximos meses, o que poderia resultar em um custo político com reflexos eleitorais em 2010.Há o receio de que uma redução brusca nos postos de trabalho possa se transformar numa grande bandeira política da oposição, especialmente num momento em que o governo vem batendo recordes na geração de empregos. Na troca de informações com integrantes da equipe econômica, os parlamentares reconhecem que a boa condução da economia nacional evitou que o País enfrentasse já no fim deste ano efeitos pesados da crise.Mas admitem que é preciso mensurar com cuidado o tempo que esse problema vai durar. Os cenários não são positivos, já que o mais otimista prevê dificuldades durante todo o próximo ano, com expectativa de recuperação apenas em 2010. Para os petistas, entretanto, é preciso que se trace uma estratégia partidária para impedir que a crise prejudique até a aprovação dos projetos de interesse do governo dentro do Congresso."Em primeiro lugar, precisamos fazer um diagnóstico mais preciso sobre a real dimensão dessa crise e tentar avaliar o seu alcance", diz o deputado João Paulo Cunha (PT-SP). "Mas precisamos também ter bastante atenção com a base aliada, para evitar que ela se disperse, contaminada por um eventual clima de dificuldades externas. E aí tudo fica difícil de votar. Nesse sentido, temos feito gestos importantes para o PMDB, como no apoio dado à candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara", completa. Esse clima de turbulência política já foi visto nas tentativas de votação da proposta de reforma tributária na Câmara. A oposição, que diz não concordar com o projeto por entender que ele provocará perdas para Estados como São Paulo e poderá representar aumento de carga tributária, entrou em obstrução contra a proposta. E o governo já não teve forças para superar o obstáculo. Com vários governadores mobilizando as bancadas estaduais contra a reforma, líderes aliados já se conformaram com o adiamento da discussão para 2009. No Senado, pressionado pelo senador petista Paulo Paim (RS), que lidera um movimento por concessão de maiores benefícios para os aposentados, o governo passou a admitir mudanças nos benefícios. O gesto é uma tentativa de abrir negociação para evitar a aprovação de medidas com grande impacto nas contas públicas. Se tivesse a base tranqüila, o governo nem sequer pensaria em abrir uma negociação desse tipo.Para os petistas, entretanto, a preocupação imediata é que o governo não perca de alcance o efeito da provável da queda no emprego. A expectativa é de que o crescimento da oferta de trabalho sofra interrupção, embora deva se sustentar nos próximos dois ou três meses com o aquecimento do período de Natal. "A maior conquista do governo Lula, sem dúvida, foi a geração de tantos empregos", diz o deputado Paulo Rocha (PT-PA). "Acho que o governo estará num bom caminho de ação se, durante a crise, incentivar empresas que são responsáveis pela maior geração de empregos. Porque o emprego é a nossa primeira preocupação numa crise desse tipo." Mesmo com indicadores favoráveis à geração de postos de trabalho, os petistas sabem que essa situação tende a se desfazer em pouco tempo. Empresas importantes, capazes de abrigar grande quantidade de mão de obra, começam a exibir o impacto sofrido com a crise. A ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, anunciou na quinta-feira um programa de desligamento voluntário em todas as suas unidades, com previsão de alcançar até 9 mil funcionários. No Brasil, a empresa já deu férias coletivas a 1.100 empregados. No ABC paulista, as montadoras também já apostam nas férias coletivas. O setor de construção civil é outro a exibir sinais de falta de fôlego. Representantes de movimentos sociais tiveram reunião com o presidente Lula em que cobraram justamente medidas para a manutenção de empregos. A reivindicação veio em carta subscrita por 60 entidades, incluindo a CUT e o MST. No documento, as entidades cobram até mesmo que o governo puna "duramente as empresas que estão demitindo".

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