quarta-feira, 26 de novembro de 2008

EUA abrem o cofre novamente

No Jornal do Brasil


O Federal Reserve (Fed, o BC americano) e o Departamento do Tesouro dos EUA anunciaram ontem novas medidas para tentar restaurar a circulação de crédito no país, tanto para o consumidor como para financiamentos imobiliários, hipotecas e pequenas empresas. O novo pacote de socorro terá valor total de US$ 800 bilhões e já contou com a participação da equipe do presidente eleito Barack Obama.
O Fed de Nova York vai emprestar até US$ 200 bilhões para instituições financeiras com papéis baseados em títulos de dívidas de consumo, como dívidas de cartões de crédito, por exemplo.
O BC dos EUA anunciou ainda que vai comprar até US$ 500 bilhões em títulos lastreados em hipotecas que haviam sido garantidas pela Fannie Mae, Freddie Mac e Ginnie Mae – as três empresas hipotecárias que contam com apoio do governo – além de outros US$ 100 bilhões em papéis de dívida emitidos diretamente por essas empresas.
As medidas do Fed vão "ajudar os participantes do mercado a atenderem as necessidades de domicílios e pequenas empresas ao garantir a emissão de títulos lastreados em créditos estudantis, financiamentos de veículos, dívidas de cartões de crédito e empréstimos garantidos pela SBA (Administração de Pequenas Empresas, na sigla em inglês)", segundo comunicado da instituição.
O Tesouro, por sua vez, informou que vai colocar US$ 20 bilhões à disposição para apoiar a iniciativa Fed de Nova York. Segundo o Fed, os recursos do Tesouro fazem parte do chamado TARP (Programa para Alívio de Ativos Problemáticos, na sigla em inglês), o pacote de US$ 700 bilhões aprovado pelo governo no início de outubro para resgatar o setor financeiro.
O mercado de títulos garantidos por ativos proporciona uma maior oferta de dinheiro a instituições financeiras que fornecem empréstimos a pequenas empresas e a consumidores. Segundo o Tesouro, a emissão desse tipo de título, lastreado em dívidas de consumo e em empréstimos a pequenas empresas, em 2007, chegou a cerca de US$ 240 bilhões. No terceiro trimestre deste ano, no entanto, houve uma queda acentuada dessas emissões e, em outubro, praticamente estagnou.
"Uma paralisação continuada no mercado desses títulos poderia deteriorar ainda mais a oferta de crédito aos consumidores e aumentar as perspectivas de deterioração da economia como um todo", diz um comunicado do Tesouro.
As novas medidas dificilmente serão os últimos esforços para compensar as perdas que tiveram início com as hipotecas subprime e espalharam-se pela economia.
No total, o governo já assumiu pelo menos US$ 7 trilhões em obrigações financeiras diretas e indiretas, na forma de resgates a Wall Street, empréstimos emergenciais e garantias a depósitos bancários, negócios entre bancos e hipotecas.
As ações de ontem representaram dois grandes marcos na expansão do governo em mercados privados. Foi a primeira vez em que o Fed e o Tesouro intervieram em débitos do consumidor, de financiamentos a automóveis e despesas com educação a pequenos negócios. O programa de US$ 200 bilhões é semelhante a um banco do governo, o que evidencia até onde Washington foi obrigada a atuar em nome do sistema bancário paralisado.
No entanto, os programas também representaram um novo nível de comprometimento do Fed. Ao invés de tentar fortalecer a economia com a redução de taxas a curto prazo, o Fed optou por injetar vastas quantias diretamente em mercados específicos de hipotecas e outros que pareçam precisar de ajuda.
Os riscos de longo prazo são imensos e difíceis de estimar. A primeira ameaça é uma nova investida da inflação, pelo menos depois que a economia sair da curva descendente. Também existe o perigo de jogar para o cidadão a responsabilidade sobre trilhões de dólares em ativos cujos valores podem acabar despencando. Isso levanta ainda questões sobre como o governo poderá lidar com as novas obrigações, se é que pode fazê-lo.
Autoridades concordam que o risco maior seria não fazer nada. Enquanto a economia contraiu 0,5% no terceiro trimestre, analistas privados prevêem que a atividade econômica já mergulhou entre 4% e 5% no quarto trimestre, e continuará a trajetória pelo menos na primeira metade de 2009.

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