terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bancos lucram mais que economia real

Por Ludmilla Totinick
no Jornal do Brasil

Pela primeira vez no governo Lula, o lucro dos bancos no Brasil superou o resultado de todos os outros setores da economia juntos no terceiro trimestre, segundo pesquisa da consultoria Economática, divulgada ontem. O lucro consolidado de 15 bancos de capital aberto foi de R$ 6,92 bilhões contra o lucro consolidado de 201 empresas não financeiras sem a Vale, Petrobras e Eletrobrás, que somou R$ 6 bilhões.
De acordo com a Economática, em 22 trimestres dos 23 estudados, o lucro consolidado do setor bancário sempre foi o maior de todos os demais setores, mas nunca tinha conseguido obter o lucro superior a todos os setores não financeiros consolidados.
A alta rentabilidade destes bancos, no entanto, não é forte o suficiente para atenuar os efeitos da crise. O crédito, considerado o motor da economia, é cada vez mais escasso e mais caro. Nem mesmo o conjunto de medidas adotadas pelo governo, em que o Banco Central injetou R$ 78 bilhões, por meio da liberação dos depósitos compulsórios (recursos que têm de ser mantidos na autoridade monetária pelas instituições financeiras) para beneficiar pequenos e médios bancos, e que têm enfrentado graves problemas para captar recursos, é suficiente para os bancos mostrarem a cor do dinheiro.
O setor não financeiro com maior lucro acumulado é o de energia elétrica, com 29 empresas que somam lucro de R$ 2,94 bilhões no terceiro trimestre deste ano. Já o setor de papel e celulose, com sete empresas, acumula prejuízo de R$ 2,66 bilhões. Os outros setores que apresentam prejuízo no terceiro trimestre do ano são o químico – com R$ 994 milhões – e o de alimentos e bebidas, com R$ 12 milhões.
O comportamento das instituições bancárias é alvo de críticas do presidente Lula e de outros representantes do governo. Alegam que o dinheiro sumiu ou que está sendo investido em títulos do Tesouro. Economistas entrevistados pelo Jornal do Brasil têm opiniões diferentes. Francisco Barone, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), censura a atitude das instituições financeiras.
– A escassez de crédito piora a liquidez da economia. Com isso, as empresas adiam seus investimentos, o número de empregos cai e há um agravamento da crise. O crédito é um dos responsáveis pela liquidez do sistema econômico. O grande problema é que em época de crise o risco das atividades produtivas aumenta muito – ressalta. – Um dos componentes da taxa de juros é o risco da operação. No lucro do banco estão embutidos: custo de captação, impostos, risco de operação e a previsão de inadimplência.
O economista da FGV-RJ defende crédito com taxa de menores para tentar evitar a situação de recessão.
Para Domingos Pandeló Junior, professor de finanças do Ibmec-São Paulo, o crédito é muito importante para a economia, mas deve ser concedido com bastante prudência.
– É um tipo de oxigênio para dar fôlego, mas não acho que seja um bom momento para sair por aí emprestando dinheiro. Vivemos uma fase complicada, de muitas incertezas. Na verdade, não sabemos qual é o tamanho real dessa crise. Os bancos precisam ser cautelosos. O governo fica pressionando a liberação de crédito, mas os bancos poderão ter problemas de liquidez lá na frente – observa.
O professor vê a retirada das grandes empresas (Vale, Petrobras e Eletrobrás) da base de comparação da pesquisa como uma atitude incoerente.
– Sinto uma preocupação muito mais política do que econômica por parte do governo – reclama.

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