quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Oposição boliviana faz bloqueios e ameaça cortar gás para o Brasil

No Estado de São Paulo com agências internacionais

Um grupo da oposição boliviana ocupou ontem a instalação de uma distribuidora de gás natural para o Brasil na região do Chaco, em Tarija, enquanto em outros quatro departamentos (Estados) do país, manifestantes continuavam a tomar edifícios públicos e bloquear estradas. As instalações invadidas pertencem à franco-brasileira Transierra e ficam no vilarejo de Villamontes, a cerca de 1.200 quilômetros de La Paz. "Grupos civis entraram na nossa usina de Taihuasi e foram enviados técnicos ao local para avaliar a situação e verificar possíveis danos", afirmou o assessor de Relações Institucionais da Transierra, Hugo Muñoz.O gasoduto que passa pela região de Villamontes leva mais de 17 milhões de metros cúbicos de gás diariamente ao Brasil. A Transierra - empresa na qual a Petrobrás tem participação de mais de 40% - transporta o gás proveniente dos campos de San Alberto e San Antonio. À tarde, Felipe Mosa, dirigente do Comitê Cívico de Villamontes e líder do movimento de ocupação da Transierra, disse à TV boliviana ATB que os manifestantes já haviam fechado quatro válvulas de gás que vão ao Brasil. "Não enviaremos combustível ao Brasil até que o governo atenda nossos pedidos", afirmou. A informação, porém, foi desmentida mais tarde pelo novo ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Saúl Ávalos, e por funcionários do governo boliviano que disseram ter consultado a Petrobrás. Em Brasília, a chancelaria e o Ministério de Minas e Energia brasileiro também disseram não ter informações de que a exportação de gás tivesse sido interrompida.A invasão ocorreu em meio a uma escalada de tensões na Bolívia. Há mais de uma semana grupos opositores do presidente Evo Morales estão organizando ações como ocupações de estradas, invasões de edifícios públicos e tomadas de postos da fronteira com o Brasil, a Argentina e o Paraguai em cinco departamentos opositores - Santa Cruz, Tarija, Beni, Chuquisaca e Pando. O objetivo é protestar contra o projeto de uma nova Constituição, aprovado por parlamentares governistas em novembro, que Evo pretende referendar em votação em dezembro. Os manifestantes exigem, ainda, a restituição de parcela do imposto sobre gás e petróleo, que era repassada para os governos, mas foi confiscada pelo governo para financiar uma pensão nacional para idosos. O governo denunciou ontem a tentativa de um "golpe civil" liderado pelos opositores, mas descartou a possibilidade de decretar estado de sítio para conter a tensão política.Ontem, choques entre grupos de oposição e a polícia em Santa Cruz deixaram cerca de dez feridos. Os conflitos ocorreram quando a polícia expulsou jovens ligados à União Juvenil Crucenha que haviam ocupado e saqueado a agência estatal de arrecadação de impostos e a sede do Instituto para a Reforma Agrária. Eles também incendiaram o escritório regional da TV Boliviana (estatal), invadiram o prédio da empresa estatal de telecomunicações, saquearam as instalações, jogaram documentos pelas janelas e queimaram móveis.Na cidade de Tarija, manifestantes ocuparam a Superintendência de Hidrocarbonetos e, em Yacuiba, na fronteira com a Argentina, a sede da estatal de telefonia.Em Beni, no norte da Bolívia, o aeroporto foi fechado após a invasão de grupos que protestavam contra o governo. Os bloqueios causavam desabastecimento de combustíveis e gás de cozinha em diversas localidades. Os protestos abrem mais um capítulo da disputa entre o governo Evo e a oposição regional. Eleito em 2005 prometendo refundar a Bolívia, Evo teve seu mandato ratificado no referendo revogatório de agosto com 67% dos votos e agora quer acelerar suas reformas. A oposição resiste e exige que o governo reconheça os estatutos autonômicos aprovados em consultas populares em quatro departamentos.

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