quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Grampo faz a PF investigar a PF

Por Vasconcelo Quadros
no Jornal do Brasil

A Polícia Federal está investigando a si mesma para tentar demonstrar que o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, não partiu da corporação e pode, ao mesmo tempo, acabar livrando da mesma suspeita sua principal rival, a Agência Brasileita de Inteligência (Abin).
Os delegados Rômulo Berredo e Willian Morad foram, ontem, a São Paulo para ouvir policiais e cruzar dados dos registros de escutas telefônicas armazenas no sistema de grampo conhecido por Guardião com as ordens judiciais expedidas pelo juiz da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal, Fausto de Sanctis, contra os alvos da Operação Satiagraha.
Os policiais também devem conversar com o magistrado e com procuradores da República responsáveis pelo controle interno da Polícia Federal, que apuram supostas irregularidades cometidas nas investigações desde a prisão do banqueiro Daniel Dantas. Levantamento preliminar aponta que até agora não há indícios da autoria e origem do grampo.
Mesmo assim, os delegados estão fazendo um pente fino nos atos do delegado Protógenes Queiroz, que chefiou a Satiagraha, para esclarecer a real participação de agentes da Abin e ou de outros órgãos durante as investigações.
Protógenes deverá ser ouvido formalmente para esclarecer suspeitas por ele levantados durante palestra proferida ontem na Câmara Municipal de Goiânia e em entrevistas: ele sugeriu que na investigação sobre a escuta que apanhou Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a Polícia Federal está produzindo provas que favorecem Dantas, confirmou que o espião Francisco Ambrósio do Nascimento – que pertenceu aos quadros do Serviço Nacional de Informações (SNI) durante a ditadura militar – trabalhou com ele como "colaborador eventual" e desmentiu as versões apresentadas pelas revistas Veja e IstoÉ, apontando, respectivamente, que o espião é dos quadros da Abin e que a escuta se deu durante a Operação Satiagraha.
– Estão apurando a conduta dos investigadores e não dos investigados – afirmou o delegado.

Investigações

Protógenes teria teria usado verba secreta da Polícia Federal para pagar Ambrósio, procedimento que, ao lado da remuneração a informantes, faz parte da rotina das investigações e normalmente é respaldado por prestação de contas. Aposentado do serviço de informações da Aeronáutica, o agente teria feito um free-lancer com o delegado durante cerca de seis meses, mas não teria comandado os 52 funcionários cedidos pela Abin à Satiagraha.
No período em que trabalhou no SNI, Ambrósio atuava basicamente no Congresso colhendo informações que interessavam ao regime. O hábito de circular pelas duas Casas e em gabinetes de senadores e deputados, ele manteve nos últimos tempos, mas sem vínculo com a Abin. O papel do agente e o racha que envolve Protógenes e o comando da PF estão sendo explorados pelos advogados de Dantas para anular a Satiagraha.
O Senado aprovou ontem medidas que restringem o uso do grampo, a maior arma da polícia no combate à corrupção. A autorização judicial não poderá extrapolar a 360 dias e será renovável de dois em dois meses. Além disso, as pena para quem se envolver em escuta clandestina passa de quatro para cinco anos, a comercialização de equipamentos de grampo deverá ser proibida e o Ministério da Justiça deverá exercer controle sobre o que for fabricado e vendido no mercado que abastece os arapongas.

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