quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Em sete favelas, contra os currais

Por Renata Victal
no Jornal do Brasil

Começa hoje o patrulhamento de homens das Forças Armadas em sete comunidades do Rio de Janeiro. A Operação Guanabara vai colocar ao menos 3.500 soldados nas ruas para garantir a segurança dos moradores, da imprensa e principalmente dos candidatos durante a campanha eleitoral. O objetivo é impedir que as comunidades continuem fechadas a campanhas de candidatos por conta do voto de cabresto de milicianos e traficantes. Veículos blindados e helicópteros também serão usados e as ordens são para atirar caso haja necessidade. Os candidatos que quiserem fazer campanha nesses locais deverão comunicar ao TRE no dia anterior. A operação só terminará no dia quatro de outubro, véspera do pleito.
O Exército ocupará, com apoio da Polícia Militar, as favelas Cidade de Deus, Gardênia Azul e Rio das Pedras, em Jacarepaguá, Zona Oeste. Já fuzileiros navais da Marinha estarão na Vila do João, Conjunto Esperança, Vila Pinheiros e Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte. Os homens ficarão em pontos específicos das favelas, por 24 horas, em sistema de rodízio, até sábado. No dia seguinte, as favelas Vila Aliança, Taquaral e Coréia (Zona Oeste) serão ocupadas. Outras 17 comunidades também receberão o apoio das tropas.

Rodízio de três dias

O rodízio de três dias em cada comunidade foi considerado satisfatório pelo comando do Exército para que os candidatos possam fazer campanha nesses locais. O esquema também teve o aval do TRE, que definiu os locais onde as Forças Armadas vão atuar.O pedido de tropas foi feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e autorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Presidente do TSE, o ministro Carlos Ayres Britto disse na terça-feira que já definiu como os militares deverão se portar durante a operação. O conteúdo das regras, no entanto, não foi divulgado pelo presidente do TSE. É sigiloso.
– Em cada comunidade, haverá presença de um juiz do TRE. Ele avaliará possíveis crimes eleitorais. Esse é o foco da operação – explicou o coronel André Luiz Novaes, responsável pela comunicação social da operação.
Segundo o coronel, as Forças Armadas não têm efetivo suficiente para ocupar as 27 comunidades e, por isso, as operações terão de ser itinerantes. Ele afirmou que os candidatos podem aproveitar a presença dos soldados para fazer campanha e que os militares poderão efetuar prisões em flagrante, se necessário, ou mesmo atirar já que o uso da força será feito "proporcionalmente ao que estiver ocorrendo". Os registros de ocorrência serão feito em delegacias comuns.
– Não é uma operação de segurança pública, de polícia. O Exército não vai estar presente nessas comunidades para garantir a segurança pública. Se um crime comum acontecer diante de um militar, ele deve, por obrigação, tomar as providências cabíveis, ou seja, prender em flagrante delito – afirmou o coronel Novaes. – O Exército estenderá um manto de segurança, mas o TRE fará a fiscalização eleitoral.
As chamadas regras de engajamento, que definem como os militares devem se portar, não foram reveladas por "questão de segurança". Mas, o coronel Novaes garantiu que a tropa foi bem treinada e descartou qualquer evento semelhante ao ocorrido no Morro da Providência, quando homens do Exército entregaram três moradores a traficantes do Morro da Mineira, de facção rival, que os mataram.
A operação será coordenada pelo general Rui Monarca da Silveira, subchefe do Estado Maior do Exército, e contará com o reforço da 4ª Brigada de Infantaria do Exército de Juiz de Fora, Minas Gerais. Os municípios de Caxias e São Gonçalo também receberão a tropa no esquema de rodízio de três dias. Já o município de Campos, no interior do Estado, contará com a presença do Exército durante todos os dias.
Ontem o TRE comunicou aos representantes dos partidos políticos, as orientações para campanha nas áreas ocupadas. Os partidos devem solicitar, por ofício, à presidência do tribunal, até as 18h do dia anterior, o acesso às áreas ocupadas. Caberá aos partidos distribuir os horários de campanha entre os candidatos. "Por questões de segurança e logística, os partidos terão de 12h às 18h para a campanha nas áreas ocupadas", diz nota do TRE. De acordo com o vice-presidente do TRE, Alberto Motta Moraes, o reforço na segurança dará tranqüilidade:
– A presença do Estado nessas regiões tem o objetivo de transmitir aos eleitores a segurança de que eles poderão ter confiança de que as eleições vão ocorrer normalmente.

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