sábado, 13 de setembro de 2008

Crise chega à fronteira com o Brasil

Por Fred Raposo e Joana Duarte
no Jornal do Brasil

A crise política entre governo e grupos de oposição na Bolívia, que até ontem deixou pelo menos 14 mortos, chegou à fronteira brasileira na noite de quinta-feira, quando manifestantes bloquearam, com montes de areia, a ponte que liga o país a Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Em sua terceira semana de protestos – que levou o governo boliviano a declarar ontem estado de sítio no departamento de Pando, principal foco da desordem – o conflito causa prejuízo para a indústria brasileira na região desde o início da semana. Uma estrada que liga Puerto Suárez a Santa Cruz de La Sierra foi fechada segunda-feira, interrompendo o fluxo de mercadorias brasileiras. O prejuízo chegaria a R$ 9 milhões – mais de R$ 2 milhões por dia – segundo cálculo da Inspetoria da Receita Federal em Corumbá.
Os protestos que se espraiam pelo território boliviano – como bloqueio de estradas e ocupação de escritórios estatais – já causam esvaziamento de mercados e esgotam o combustível de postos de gasolina. Suprimento de alimentos, combustível e gás começam a faltar.
Brasileiros que moram na fronteira com a Bolívia contam que as maiores vítimas do bloqueio – previsto para ser suspenso depois de amanhã – são os próprios bolivianos, que consomem insumos alimentícios em Corumbá. Apenas alunos bolivianos que estudam nas escolas do município estão autorizados a passar.
Os brasileiros, por sua vez, reclamam que os produtos de exportação estão se acumulando nos depósitos das transportadoras.
– Estamos totalmente abarrotados – exclama Alison Araújo, um dos diretores do Armazém Geral Alfandegário de Mato Grosso do Sul (Agesa), cujo depósito fechado mede 8.500 metros quadrados, e o aberto, 30 mil metros quadrados. – Temos cerca de 80 caminhões repletos de mercadorias, prontos para serem descarregados.
Entre os itens armazenados, estão 10 máquinas de coletar soja, avaliadas em R$ 700 mil cada, além de 20 tratores, que chegam a custar até R$ 250 mil. Segundo Araújo, seriam necessários 200 vagões de trem para descarregar toda a mercadoria armazenada.
Marcelo Bittencourt, chefe substituto da Sessão de Controle Aduaneiro (Saana) em Corumbá, explica que, até o bloqueio da estrada entre Puerto Suárez a Santa Cruz, eram feitos, em média, 100 despachos por dia.
– Cerca de 90% das exportações que saem daqui vão para Santa Cruz. Está tudo parado – relata.
Segundo Bittencourt, a paralisação envolve rodovias, ferrovias e transporte por barcas, que levam desde minérios e polietileno até equipamentos agrícolas e papel. Ambos apontam que o bloqueio afeta principalmente os exportadores:
– O problema não é nem o gasto com aluguel dos depósitos, mas é que eles estão perdendo negócio.

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