no Jornal do Brasil
O Comitê de Política Mo- netária (Copom) do Banco Central interrompeu uma série de quatro altas e decidiu ontem pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em linha com a expectativa da maior parte do mercado. A decisão foi unânime e sem viés, e levou em conta "o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza", como informou a nota divulgada pelo colegiado. Portanto, o atual cenário turbulento, com a possibilidade de uma recessão mundial, e a escassez de crédito levaram o Conselho a interromper o ciclo de aperto monetário e optar pela manutenção da Selic.
Compasso de espera
O comunicado destacou a palavra incerteza, e a avaliação do Copom é a de que, desde setembro, o mundo mudou. Tomamos um susto com o câmbio e o crédito, mas nos últimos dias ficou mais claro que não é preciso elevar o juro básico para levar o câmbio para um patamar razoável. Com a desaceleração econômica, a melhor coisa que o Copom pode fazer é ganhar 45 dias para ver o que acontece pondera o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, a decisão do Copom mostra que o Banco Central está sensível às necessidades do mercado. Com a desaceleração da demanda, a manutenção da Selic foi uma decisão natural conclui o especialista. Segundo o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo Silveira, "prevalece a idéia de que a queda no preço das commodities (matérias-primas) neutraliza o câmbio e que a possibilidade de um choque monetário paralisaria a economia". O diretor da Daycoval Asset Management, Roberto Kropp, observa que o atual cenário justifica esta parada técnica no aperto monetário. A queda na oferta por crédito, a redução da confiança dos empresários na economia, a piora nas perspectivas de crescimento, cortes de investimentos em geral e a queda nas expectativas de lucro levaram a essa parada técnica, apesar da desvalorização do real que pode vir a impactar os preços no varejo arrematou Kropp. E o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, prevê uma ata do Copom -- que será divulgada na próxima quinta-feira -- austera. O Copom pode sinalizar a possibilidade de uma retomada no processo de alta na taxa Selic caso o cenário para a inflação se deteriore.
Fed derruba taxa
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortou ontem a taxa básica de juros americana em 0,50 ponto percentual, na tentativa de evitar que a intensificação da crise de crédito leve a economia para uma profunda e prolongada recessão. E deixou a porta aberta para mais reduções se for necessário. A decisão unânime colocou a taxa básica em 1,0%, o menor nível desde junho de 2004. A unanimidade também prevalecia em Wall Street na crença de que o Fed cortaria os juros, ainda que mostrasse divisão sobre o tamanho da redução. "O ritmo da atividade econômica parece ter desacelerado fortemente devido, principalmente, a um declínio nos gastos do consumidor", destacou o Fed em comunicado. "Além disso, a intensificação da turbulência no mercado financeiro deve exercer pressão adicional sobre os gastos". Riscos continuam O banco central dos Estados Unidos já cortou os juros de 5,25% em nove atuações nos últimos 13 meses para conter a tempestade financeira que começou com o colapso do mercado imobiliário do país e se espalhou por todo o mundo. O Fed tem agido agressivamente para combater a crise de crédito com uma série de medidas para injetar liquidez nos mercados. Os formuladores de política monetária enfatizaram essas medidas no comunicado. Mas a autoridade monetária dos EUA concluiu que "os riscos ao crescimento continuam", mantendo a opção de cortar mais os juros. A economia deve ficar fraca por vários trimestres, e com algum risco de uma desaceleração prolongada afirmou o chairman do Fed, Ben Bernanke, no dia 20, ao Congresso americano. O Produto Interno Bruto (PIB) do país será divulgado hoje, e especialistas têm dito que, possivelmente, terá havido uma retração de 0,5 % no terceiro trimestre.
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