segunda-feira, 12 de maio de 2008

Oposição anuncia nova ofensiva para levar Dilma à CPI

Por Luciana Nunes Leal e Marcelo de Moraes
no Estado de São Paulo

A oposição vai apresentar amanhã à CPI dos Cartões um novo requerimento para que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deponha na comissão. O deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) afirmou ontem que, apesar de a CPI já ter rejeitado a convocação de Dilma uma vez, agora "há fatos novos" na investigação do dossiê sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O deputado referia-se à sindicância interna da Casa Civil que apontou como responsável pelo vazamento de informações o secretário de Controle Interno, José Aparecido Nunes Pires."É um subordinado da ministra envolvido. Não há como ela não ir à CPI", disse Vic Pires. A oposição também vai pedir a convocação da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito de Dilma e apontada como operadora da coleta de dados para o dossiê.Na avaliação dos oposicionistas, a vida política de Dilma vai se complicar porque a sindicância, se apontou o suposto responsável pelo vazamento, também revelou que ela mentiu ao depor, na quarta-feira, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. A ministra insistiu na tese de que ninguém produzira um dossiê e havia apenas um banco de dados em formação. Mas desde segunda-feira passada, dois dias antes de depor no Senado, ela já sabia que havia um dossiê repassado por Aparecido a André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).Oposicionistas consideram que isso vai comprometer a condição de Dilma como pré-candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de aprofundar as dificuldades de relacionamento político na base aliada. Consideram ainda que ao depor no Senado, Dilma exagerou nas informações sobre o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para esconder as informações sobre o dossiê e José Aparecido.Se a CPI dos Cartões não conseguir convocar a ministra e ficar apenas com os depoimentos de funcionários de segundo e terceiro escalões, os trabalhos tendem a definhar.Pires disse ao Estado que também vai requerer a convocação de Fernandes para depor. O assessor confirmou quinta-feira ter recebido o e-mail de Aparecido com o dossiê anexado.A CPI já tem um requerimento de convocação do secretário de Controle Interno na fila de votação. Antes da conclusão da sindicância interna, Vic Pires tinha pedido o comparecimento de Aparecido para esclarecer dúvidas sobre informações do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Casa Civil - o secretário é funcionário de carreira do tribunal cedido à Casa Civil. "Se não for aprovado esse primeiro requerimento de convocação, vou apresentar um segundo, diante desses novos fatos", afirmou o deputado.
RESISTÊNCIA
Apesar do desempenho de Dilma na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, enfrentando abertamente PSDB e DEM, Lula sabe que não arrefeceu a queixa básica contra a ministra entre os partidos da base aliada - a de que ela ainda precisa aprender a fazer política. Até mesmo no caso do dossiê ela tem sido considerada excessivamente voluntariosa, tomando decisões sem consultar assessores.Até agora, quando faz política Dilma fica longe de ser uma unanimidade entre os aliados. No mês passado, ela influiu nas articulações para atrair partidos da base para a candidatura da deputada Maria do Rosário (PT-RS) à Prefeitura de Porto Alegre. Ao fazer isso, ajudou a desmontar parte do arco de alianças que estava sendo formado pela deputada Manuela D?Ávila (PC do B), que também quer concorrer ao cargo. A direção do PC do B tinha justamente definido a campanha de Porto Alegre como uma de suas prioridades, e não escondeu o aborrecimento pelo que considerou como interferência indevida da ministra. A base governista também torce o nariz para o jeito como a ministra encara os pleitos de aliados, tanto de indicações para cargos como de liberação de recursos. Dentro do PMDB, essas arestas são fortes. Dirigentes do partido não esquecem as dificuldades impostas por Dilma às indicações para cargos no setor elétrico, depois que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) assumiu o comando do Ministério de Minas e Energia.Dilma não foi atingida diretamente pela oposição em seu depoimento no Senado, mas continuar incólume e manter-se como pré-candidata a presidente dependerá dos desdobramentos do caso do dossiê. Ela sabe que, quando começou a aproveitar lançamentos de obras para apresentá-la como "a mãe do PAC", Lula queria testar sua receptividade entre a população e avaliar a viabilidade política de sua eventual candidatura.Mas, segundo aliados diretos do presidente, essa disposição era mais uma espécie de desejo do que uma aposta concreta, dada a resistência à ministra entre aliados. Lula sabe dos riscos e, por conta disso, não suspendeu a estratégia de alimentar as esperanças de outros petistas que sonham em sucedê-lo. É o caso dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Marta Suplicy (Turismo), Tarso Genro (Justiça) e Fernando Haddad (Educação). E também de aliados de outros partidos, como o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

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