segunda-feira, 12 de maio de 2008

Corregedor estuda pedir cassação de Paulinho direto ao Conselho de Ética

Por Luciana Nunes Leal
no Estado de São Paulo

Diante das suspeitas cada vez mais graves contra o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, o corregedor da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE), revelou ontem que pensa em encaminhar diretamente ao Conselho de Ética representação para abertura de processo de cassação. Segundo Inocêncio, isso dispensaria a investigação prévia na corregedoria, que seria feita por uma comissão de sindicância nomeada por ele.Inocêncio aguarda apenas a chegada de documentos que serão enviados pela Procuradoria-Geral da República sobre a Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, para decidir o caminho da investigação na Câmara. "A situação do deputado é complicada", disse. "Dependendo dos documentos oficiais que chegarem da procuradoria, vou mandar uma representação direto para o Conselho de Ética da Câmara. Tenho uma amizade muito grande pelo Paulinho, mas, acima da amizade, está o nome da instituição."A PF suspeita que Paulinho esteja envolvido no esquema de desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em conversas telefônicas gravadas na Operação Santa Tereza, o lobista João Pedro Moura, amigo e ex-assessor do deputado, fala em divisão de dinheiro e mais de uma vez diz: "Tem a parte do Paulinho." Moura está preso e a polícia acredita que comandava o esquema."Cada dia aparece uma coisa nova", observou Inocêncio. "No início, as denúncias me pareceram vagas, o Paulinho se defendeu no plenário. Mas eu tinha um sentimento de que o Ministério Público não faria uma denúncia se não tivesse coisa mais concreta. Agora, surgem fatos gravíssimos." Segundo o corregedor, os documentos foram pedidos ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e devem chegar à Câmara "na terça ou quarta-feira". "Se outros parlamentares estiverem envolvidos, também vão para o conselho", prometeu.O Conselho de Ética é a instância de investigação da Câmara para processos de cassação de mandato por falta de decoro parlamentar. A conclusão do colegiado é submetida ao plenário da Câmara, que condena ou absolve os deputados. O corregedor explicou que passou a considerar a hipótese de levar o caso direto para o conselho diante de "revelações gravíssimas" que surgiram nos últimos dias.Inocêncio citou a descoberta de que Moura fez um depósito de R$ 37,5 mil na conta da ONG Meu Guri Centro de Atendimento Biopsicossocial, presidida pela mulher de Paulinho, Elza de Fátima Costa Pereira. A PF investiga se as verbas desviadas do BNDES foram repassadas a ONGs, embora se destinassem principalmente a prefeituras. Paulinho e Elza alegam que a doação foi feita para pagamento de dívidas de um imóvel doado por Moura para a Meu Guri.Outro ponto, segundo Inocêncio, é que a Meu Guri recebeu R$ 1,328 milhão do BNDES. A operação não-reembolsável foi aprovada em 2000 e os recursos liberados em 2002 e 2003, quando Moura integrava o conselho de administração do banco.Chamou a atenção do corregedor ainda a afirmação da procuradora da República Adriana Scordamaglia de que há suspeitas de envolvimento de outros políticos. "A procuradora não falaria se as investigações não apontassem fatos graves. Agora o que está aparecendo é uma promiscuidade danada."Ele argumentou que a imagem da Câmara tem de ser preservada e por isso é importante dar agilidade às investigações. "Nós passamos e a Câmara sobrevive. Não podemos pôr a instituição sob risco. Vamos investigar sem preconceito, sem retaliação. Mas não podemos daqui a um ano ainda estarmos às voltas com essa conversa. Temos de dar uma resposta."Para Inocêncio, a investigação, seja pela comissão de sindicância ou pelo Conselho de Ética, deve ter como ponto de partida os depoimentos de Paulinho, Elza e Moura, do advogado Ricardo Tosto, representante da Força no conselho do BNDES e preso na Operação Santa Tereza, e do prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB). "Eles precisam dar explicações à Câmara porque os fatos concretos estão aparecendo."O caso de Praia Grande é o que está mais avançado na investigação. A PF acredita ter provas de irregularidades na concessão de financiamento do BNDES de R$ 124 milhões.

Nenhum comentário: