quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

De 2001 a 2008 os governos só ignoraram os alertas

No post abaixo falei que não acreditava em ministro interino. O atual interino de Minas e Energia ironizou os alertas feitos por especialistas em energia sobre um possível apagão, igual aquele de 2001. Por falar em 2001, de lá pra cá, os governos sempre ignoraram os alertas, os avisos dos especialistas. A revista Veja do dia 16 de maio de 2001 mostrava que o então governo Fernando Henrique Cardoso havia sido alertado diversas vezes sobre o risco de um apagão. Esperaram que São Pedro abrisse a torneira e resolvesse o problema. Pois é. Em 2001 deu no que todo mundo está cansado de saber. Abaixo coloco trechos da reportagem:

Na semana passada, o governo se comportava como se tivesse sido pego de surpresa pela necessidade de recorrer ao apagão. "Nossa parte nós fizemos. Retomamos as obras paradas e estamos fazendo investimentos. O problema é que choveu muito pouco", afirmou José Mário Abdo, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Na última quinta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, encarregado de chefiar um grupo de trabalho para orientar o apagão, avisou: "É muito mais grave do que imaginávamos". Repare bem. O Estado possui três órgãos que cuidam de energia: além da Aneel, há o Ministério das Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), empresa que monitora a rede física que permite à eletricidade viajar por todo o Brasil. Pois nenhuma das três anteviu o problema. Como isso é possível? Aliás, fizeram mais do que isso. Prometiam um céu de brigadeiro para este ano. "Eu garanto: vamos chegar a 2001 sem racionamento e com mais energia", afirmou o engenheiro pernambucano Mário Santos, presidente do ONS, em novembro do ano passado. Até a sexta-feira, desvendado o erro de avaliação e conhecidos os estragos que o apagão pode gerar, nenhum dos três titulares se sentia envergonhado o bastante para pedir demissão.

Entre os especialistas, o racionamento é um risco antigo. Do ponto de vista objetivo, desde 1997 o nível dos reservatórios brasileiros vem baixando em virtude da falta de chuvas. O país atravessa a fase de mais baixo índice pluviométrico dos últimos sessenta anos. Além disso, não faltaram alertas. Em 1995, o diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, entregou um relatório ao vice-presidente da República, Marco Maciel, afirmando que o modelo de privatização das elétricas não previa a expansão do setor, o que poderia acarretar a falta de abastecimento no futuro. Em setembro daquele ano, a Eletrobrás alertou o Ministério das Minas e Energia sobre os riscos de um racionamento da ordem de 10% a partir de 2001. "Se o governo tivesse aumentado os investimentos na ocasião, a situação seria outra", diz o engenheiro elétrico João Mamede Filho, que na época era diretor da Companhia Energética do Ceará.


Não faltaram alertas e o governo sempre garantia que não faltaria energia. Oito anos depois, com outra gente no poder, os avisos são dados e, mais uma vez, ninguém lá de Brasília dá ouvidos. Veja o que o Estadão online publicou ontem:

O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, descartou nesta quarta-feira, 9, a hipótese de haver racionamento de energia neste ano e no próximo. Hubner, que concedeu entrevista coletiva à imprensa, ironizou as críticas de analistas à política energética do governo e as afirmações de que haverá problemas no fornecimento de energia. "Tem analista para tudo. Faz cinco anos que eu estou no governo e todo ano tem gente dizendo que vai faltar energia. E não faltou", disse. O ministro ainda explicou que a situação de baixa nos níveis de água dos reservatórios não deve ser interpretada como um alerta à população.

Hubner, que nessa mesma entrevista declarou que o governo já possui um plano de contingenciamento do gás natural, caso seja necessário racionar o combustível, afirmou que eventuais medidas nesse sentido seriam tomadas por meio de uma decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), respaldada pelo presidente da República.


Entra governo, sai governo é a mesma coisa. Quando analistas afirmam que pode acontecer alguma coisa de muito ruim, os governantes tampam os ouvidos, acham graça e até fazem piadas das análises. Depois que a catástrofe acontece estes mesmos indivíduos colocam a cara na televisão mostrando a perplexidade com o ocorrido. Se o Brasil apagar de novo não vai ser por falta de alertas e sim por culpa de governantes sabichões e metidos a humoristas.

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