segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Governo pagou quase R$ 1 bi a publicitários ligados ao PT

Por Rubens Valente
na Folha de São Paulo

O governo federal deve anunciar nos próximos dias o resultado de duas das maiores concorrências lançadas para contratação de serviços de publicidade desde a posse do presidente Lula. A conta da Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, cujo resultado é esperado para hoje, prevê o valor anual de R$ 150 milhões e a estatal Petrobras anuncia gastos de R$ 250 milhões por ano. Os dois contratos originais datam de 2003 e desde então vinham sendo renovados pelo governo.O retrospecto da distribuição das verbas publicitárias pelo governo indica que é grande a chance de as contas caírem ou continuarem nas mãos de marqueteiros afinados com o PT. Segundo levantamento feito pela Folha, publicitários que trabalharam em campanhas de Lula ou com administrações do PT abocanharam pelo menos R$ 983 milhões em verbas publicitárias da Esplanada dos Ministérios e da Petrobras desde a posse do presidente.O valor representa quase a metade (49,1%) de tudo o que foi gasto por todos os ministérios e a Presidência no período 2004-2007 e pela estatal no período 2003-2007, num total de R$ 2 bilhões. Em média, as agências ficam com 14% do bolo publicitário, e o restante vai para meios de comunicação, gráficas, produtoras de vídeo e outras empresas terceirizadas voltadas para produção e divulgação das peças -o que projeta um faturamento de R$ 137 milhões para as agências.Três marqueteiros que atuaram em campanhas de Lula estão ligados a agências que receberam R$ 920 milhões desde 2003. São eles Duda Mendonça, Paulo de Tarso, da agência Matisse, e Eduardo Godoy, ex-secretário de Comunicação do governador Zeca do PT (MS) entre 1999 e 2000 e presidente da Quê Comunicação.A agência presidida por Godoy obteve R$ 339 milhões da Petrobras e cerca de R$ 15 milhões da estatal BR Distribuidora. Godoy trabalhou na campanha de Lula de 1998 e na de Marta Suplicy (PT) ao governo de São Paulo no mesmo ano.No ano passado, seu nome apareceu no noticiário durante as investigações sobre os aloprados -assessores da campanha de Lula à reeleição envolvidos numa tentativa de compra de um dossiê contra tucanos.A Polícia Federal detectou um telefonema de Godoy para Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) apontado pela PF como a pessoa que teria levado a um hotel de São Paulo o dinheiro para a compra do dossiê. Godoy disse que a conversa foi uma sondagem de Lacerda para que ele fizesse a campanha de Mercadante.
Líder
Com o escândalo do mensalão, em 2005, o publicitário Duda Mendonça, marqueteiro de Lula na eleição de 2002, perdeu a conta da Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência. Mas manteve-se na liderança das verbas publicitárias, com R$ 417 milhões entre 2003 e 2007, principalmente por causa dos repasses da Petrobras (R$ 294 milhões no período).Na crise do mensalão, Duda admitiu ter recebido pelo menos R$ 10 milhões no exterior.O publicitário Agnelo Pacheco, que deteve a conta de publicidade da Prefeitura de São Paulo na gestão Marta, registra ascensão meteórica na distribuição de verbas publicitárias do governo Lula. Em 2004, a agência obteve R$ 4,4 milhões do Ministério do Turismo. Venceu a licitação na Saúde naquele ano e os pagamentos passaram a R$ 33 milhões em 2005. O valor manteve-se em R$ 31 milhões em 2006.A ministra do Turismo, Marta Suplicy, que tomou posse no início deste ano, lançou nova licitação para publicidade. Até então, a Agnelo Pacheco recebia anualmente sempre menos de 30% do valor total da verba máxima de R$ 30 milhões anuais, enquanto a empresa mineira Perfil, do mesmo Estado do ex-ministro das Relações Institucionais Walfrido dos Mares Guia (PTB), recebia cerca de 70%. A Perfil perdeu para a 141 Worldwide a licitação, concluída há dois meses. A partir de agora, a verba anual será de R$ 40 milhões, distribuída entre a Agnelo Pacheco, que venceu a nova disputa, e a 141."A Agnelo é uma das empresas que atendem a conta do governo do Rio, Sérgio Cabral, que é do PMDB, e ganhei a SPTrans, que é do seu Kassab [DEM]. Quer dizer, a Agnelo não tem carimbo."

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