quarta-feira, 1 de abril de 2009

"É bem feito" por Marcos Fayad

Somos um povo que recebe exatamente o que merece, nem mais nem menos. Temos os governantes demagogos, desonestos e incompetentes que elegemos e os merecemos. A massacrante maioria dos nossos políticos são descarados, ladrões, sem-vergonha e mentirosos e nós mesmos os elegemos.
Nosso sistema judiciário é insensível e preguiçoso, desonesto e corporativista — nós os merecemos igualmente. Nossa polícia é despreparada e corrupta e nós fazemos jus a ela. Homens e mulheres desse País: ninguém faz nada?
Há anos não se nota a presença do Estado a não ser na cobrança de impostos e nas cascatas de explicações sobre a falta de segurança, de trabalho, de incentivos. Todas as autoridades parecem ter sido treinadas numa mesma escola sobre como justificar a inoperância.
E todos parecem permanentemente ocupados em preservar seus carguinhos, seus ganhos, seus postos embalados pelo poder, mordomias, garantias e blindagens. E fazendo aquilo que chamam política que é o que vai lhes garantir a permanência no poder nos próximos anos.
Assim como a grande maioria dos eleitores que votaram, você também leitor, deve ter votado pensando que o atual presidente do Brasil nos livraria das piores pessoas que ele mesmo dizia combater e que o Brasil não suporta mais.
O que se vê é que todos os pequenos homens que sugam os cofres brasileiros e debocham do povo: José Sarney, Delúbio Soares, Severino Cavalcanti, Marta Suplicy, Marcos Valério, Marco Aurélio Garcia, Fernando Collor, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Roberto Jefferson, todos eles e muitos mais é que foram e são as companhias perfeitas para o presidente da República.
Morro de medo de ser preconceituoso involuntário, mas o que mais se poderia esperar de gente tão ignorante e pouco aculturada no comando da nação?
O que esperar de um chefe de nação que se diz orgulhoso da sua falta de cultura e que nem falar direito sabe? Que afirma com todas as letras que ler um livro é chato? Que acha que ler jornais lhe causa azia? Que só sabe se expressar através de metáforas sobre galinhas, ovos, futebol e grogotós, além das piadas sem graça e das comparações indigentes.
Que divide o mundo em brancos de olhos azuis, os maus e os outros. Reinaldo Azevedo, colunista da “Veja” os chama de “petralhas” mistura perfeita de petistas com os irmãos metralhas. São eles que se proclamaram donos do País.
E será preciso falar dos seus aliados oportunistas e parasitários de outros partidos?
Esqueçamos a tal esperança de que o País um dia vai melhorar isso é utopia cega, não vai melhorar nada enquanto incompetentes estiverem nos governando. Nada vai melhorar enquanto forem eleitos pela grande maioria também alienada e analfabeta que se contenta com cestas básicas e acredita (ainda) que um ex-operário no poder é capaz de mudar as coisas, um ex-operário travado pela imobilidade e a vaidade de se considerar o messiânico pai da pátria.
O que define os destinos de um país é a classe média com alguma informação e cultura, gente que trabalha de fato e não necessita de esmolas governamentais para decidir seu voto. São os intelectuais sem empregos públicos, eternas minorias, mas capazes de pensar estratégias contra a mediocridade...ou deveriam ser.
Enquanto a maioria der a esse governo a sensação de que o aprova como tem acontecido através das pesquisas continuaremos a viver num País governado pela corrupção, a falta de ética, de segurança, de saúde, de educação e de caráter. Operário deslumbrado pelo poder só pode gerar culto ao ego, há muitos exemplos na história do século XX.
As dezenas de ministérios, secretarias e os cargos mais importantes não são distribuídos conforme a competência de cada um, mas oferecidos aos companheiros aliados. O que essa gente corporativista entende de segurança, de turismo, de malha aérea, de agricultura, de cultura? Por que algum deles se aventuraria a alguma mudança de fato na ordem das coisas correndo o risco de perderem seus empregos?
E nós apenas nos indignamos e não fazemos nada, desconsideramos nossa capacidade de mobilização contra o que nos aflige, sentamos diante da TV pra assistir de camarote as humilhações a que nos submetem e arrotamos depois da pamonha mal digerida.
E acordamos cedo pra trabalhar e pagar os impostos que vão alimentar essa máquina de fazer doidos — as vítimas trabalhando pra felicidade dos algozes.
Melhor repetir: merecemos tudo. Fazemos jus a tudo isso porque, apesar de tudo isso, as ruas estão vazias da nossa presença, só nos manifestamos na intimidade dos nossos lares, acuados, sem coragem de encarar as praças que não deveriam ter a única função de reunir pessoas pro lazer, mas também ajuntamentos e participação.
Utopia que faz relembrar a frase do Bertolt Brecht: “Se os bois pudessem se comunicar entre si, com a força que têm, jamais iriam pro matadouro”. Seguimos cabisbaixos pro curral final.
E pensar que já tivemos coragem de enfrentar as armas e as prisões da ditadura militar nos juntando nas ruas e praças pra exigir democracia e liberdade. Conseguimos e não sabemos o que fazer delas.
Uma porção de ração e uns empreguinhos mequetrefes conseguem mais que silenciar as massas: fazê-las aplaudir e aprovar a mediocridade e a incompetência. E os que pensam permanecem calados.
Bem que merecemos, bem que merecemos.

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