sábado, 26 de janeiro de 2008

Vacina pode ter matado 1 e governo admite erro

Por Fabiane Leite
no Estado de São Paulo

A Secretaria da Saúde de Goiás confirmou ontem a suspeita de que um homem tenha morrido no Estado em razão do uso indevido da vacina contra febre amarela, informou o secretario estadual da Saúde, Cairo de Freitas. No fim da noite, durante evento em São Paulo, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reconheceu que sua pasta publicou um mapa com áreas em que a imunização é recomendada que induziu a população a erros, mas não mencionou a suspeita existente no Estado.“Aquele mapa está sendo substituído por um mapa muito mais adequado, que mostra claramente as áreas de risco. No começo, o mapa induziu a erro, é verdade, tanto é que nós mudamos para que haja uma visão muito clara das pessoas, por isso nós aperfeiçoamos”, disse Temporão. O ministro recomendou que as pessoas liguem para o Disque Saúde ( 0800- 611997), antes de viajar, para saber se é a vacina é recomendável na área para a qual estão se dirigindo. No primeiro mapa divulgado pela pasta, a vacinação para viajantes era recomendável para a maior parte do Brasil, incluindo áreas urbanas, exceto para grande parte da costa do País. Segundo o novo mapa, a imunização é só para quem se dirige para alguns pontos específicos. O ministério também passou a recomendar que, antes da vacinação, os serviços de saúde questionem se o paciente vai para regiões de risco, e também que as secretarias de saúde restrinjam os locais de imunização. A vacina vale por dez anos e não deve ser repetida antes disso. O DF informou ontem que não vacinará pessoas neste fim de semana - o governo local vinha oferecendo o serviço aos sábados e domingos, mas diz que não há mais necessidade disso.
SUSPEITA
O secretário da Saúde de Goiás afirmou que se confirmada a suspeita de óbito por causa da vacina, esse será o primeiro caso relacionado à imunização em massa iniciada no Brasil no fim do ano passado, em razão do aparecimento de macacos mortos no Centro-Oeste do País. As mortes dos primatas são o primeiro alerta sobre a circulação do vírus da febre amarela silvestre em uma região.Até ontem, o Ministério da Saúde confirmava apenas 31 casos de reação à vacina, um deles grave - a vítima continua internada em UTI - e não computava a suspeita de Goiás. O número confirmado é maior do que o total de casos de febre amarela confirmados no País neste ano, 19, com 10 mortos.Mais de 1,9 milhão de pessoas já foram vacinadas em Goiás. Um grupo de especialistas do Instituto Evandro Chagas, ligado à Fundação Oswaldo Cruz no Pará, chegou ontem a Goiânia para verificar, junto com técnicos do Estado e do município, a morte de um vigilante da Universidade Federal de Goiás, ocorrida no dia 30 de dezembro. O rapaz chegou a ser incluído na lista de mortos pela febre amarela silvestre, mas as novas suspeitas levaram o Estado a rever a informação. A secretaria verificou que o homem sofria de hepatite B e já tinha danos no fígado em razão da doença. Ele combatia uma infecção por causa da doença com antibióticos. A vacina, feita com vírus vivo e atenuado da febre amarela, é contra-indicada para pessoas com problemas no sistema imunológico.Segundo Freitas, a pasta já localizou o serviço de saúde que aplicou a vacina e verifica se ele não percebeu que o rapaz tinha contra-indicação para tomá-la ou se o paciente não aparentava ou não informou os problemas de saúde.“Quando ele se vacinou, em 27 de dezembro, já teria manifestações como febre. Nessa situação debilitada, foi vacinado e, logo à noite, seu quadro agravou-se. Os exames apontaram que ele morreu de hepatite amarílica (causada pela febre amarela). Então, a insuficiência hepática pode ter sido precipitada pela vacina”, disse o secretário.A bula da vacina relata pelo menos três mortes relacionadas ao seu uso desde 1998, a maior parte ligada à suscetibilidade dos organismos dos pacientes, segundo estudos realizados posteriormente sobre os registros. Foram esses casos que levaram o governo, já naquela época, a abortar uma proposta de vacinação em massa no País.O ministro, nos últimos dias, vinha afirmando que a imprensa contribuiu para que pessoas se vacinassem indevidamente. No entanto, especialistas já apontavam que sua pasta exagerou na recomendação da vacina, ao estendê-la para áreas urbanas (e não apenas para as de matas), e que também não foi claro na divulgação da informação.“Muita gente tomou a vacina sem precisar. Agora as pessoas estão mais bem informadas e a qualidade da informação da mídia é melhor”, disse Temporão.

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