quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Para Meirelles, crise nos EUA afetará pouco o PIB

Por Sheilla D'Amorim, Letícia Sander e Julianna Sofia
na Folha de São Paulo

Encarregado de fazer a apresentação econômica na primeira reunião ministerial do ano no lugar do ministro Guido Mantega (Fazenda) -que foi ao dentista e chegou atrasado no encontro -, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a crise nos EUA deve afetar o crescimento brasileiro.Empolgado com as primeiras repercussões dos mercados financeiros ao corte de juros promovido pelo Banco Central norte-americano, Meirelles ressaltou, segundo relato de ministros, que o Brasil está "incomparavelmente melhor hoje do que em épocas anteriores".No entanto, reconheceu que a desaceleração na maior economia do mundo deve "ter algum efeito sobre o crescimento" e argumentou, que "a projeção mais sólida [do PIB] para o Brasil hoje é de 4,5%".Essa era a previsão do BC para 2008, mas a estimativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que consta no Orçamento da União, no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e foi reafirmada anteontem por Mantega é de 5%.Meirelles lembrou que a economia está crescendo atualmente acima de 5% e tratou esse possível recuo no crescimento como algo que não mudará significativamente o rumo do país. "Estamos com crescimento extraordinário, mas que apenas pode ficar bom."A afirmação do presidente do BC se baseia na avaliação de que se houver recessão nos EUA ela não deve ser forte. Além disso, ele destacou que a aceleração no nível de atividade é sustentada por uma demanda interna forte, que o país depende menos das exportações para os EUA, que o BC conta com US$ 185 bilhões de reservas para se proteger dos impactos financeiros e que o comércio do Brasil com a Ásia é um importante contraponto.Mesmo com esse cenário, enfatizou que é necessário "olhar a crise com seriedade e serenidade". Horas depois do discurso empolgado de Meirelles com a reação dos mercados ao corte de juros nos EUA, a bolsa de valores brasileira desabava.Alguns ministros tiveram a informação "on-line" sobre a reação na bolsa, mas preferiram não tocar no assunto. Afinal, na ocasião, o foco da reunião já tinha mudado da economia para política.
Mesmo rumo
O presidente Lula fez um rápido comentário sobre as perspectivas econômicas após a explanação de Meirelles e, de acordo com ministros, afirmou que a política econômica não mudará de rumo.Segundo o ministro Luiz Marinho (Previdência), Lula comparou a economia do país nos últimos 26 anos a uma "pipa" sem "rabiola", que "levanta e cai". "Foi uma outra forma de tratar o vôo da galinha", disse Marinho, acrescentando que agora há um crescimento sustentado. "Mas a parte econômica foi mais um flash, a reunião teve o foco na questão política."

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