terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Em recado a Dilma, Lobão diz que ninguém tutela ministro

Por Humberto Medina e Letícia Sander
na Folha de São Paulo

O novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), 71, afirmou ontem, ao tomar posse, que não será tutelado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). "Dizem que ela [Dilma] está tutelando o ministro. Ninguém tutela o ministro, a não ser o presidente da República", afirmou Lobão. "A ministra-chefe da Casa Civil coordena o governo e vai nos ajudar muito, mas nada de subordinação", afirmou.Pouco antes, na cerimônia de 18 minutos no Palácio do Planalto para oficializar a indicação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou que o país está livre do risco de um apagão e minimizou a falta de experiência técnica do novo subordinado dizendo que a chegada de Lobão ao cargo vai "desmontar uma série de preconceitos".Na mesma ocasião, o novo ministro disse que Valter Cardeal, atual presidente da Eletrobrás e ligado à Dilma Rousseff, será substituído por um nome indicado pelo PMDB.Apesar de Lobão dizer que o nome para a Eletrobrás ainda não está escolhido, o PMDB entregou a José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) a relação de cargos no setor que deseja indicar. Na lista está o nome de Jorge Luiz Zelada para a diretoria internacional da Petrobras. Hoje, Lobão discute nomeações com Múcio.José Sarney (PMDB-AP), padrinho político de Lobão, também negocia outros cargos, como a presidência da Eletrobrás. Ele indicou ao posto o atual diretor financeiro da Eletronorte, Astrogildo Quental. Dilma resiste e Quental pode ir para a diretoria financeira da estatal.Depois do recado a Dilma, o novo ministro a elogiou. "Tenho laços de admiração e amizade com a Dilma, que nunca indicou e nem vetou ninguém para o ministério", disse. "Sempre que for necessário, vou ouvi-la", disse. Lobão se reconheceu como um político, mas não vê nisso um problema para comandar o setor. "Sou um político e me orgulho disso."Na semana passada, Dilma deu demonstração de força no setor elétrico, ao vetar a indicação do ex-prefeito de São Paulo, Miguel Colasuonno, para o ministério. Colasuonno é do PMDB, ligado a Michel Temer, Orestes Quércia e foi da tropa de choque do ex-prefeito Celso Pitta na Câmara de Vereadores.Outra mostra do poder da ministra no setor foi a indicação de Márcio Zimmermann, engenheiro e técnico ligado a ela, para o cargo de secretário-executivo de Minas e Energia.Lobão disse que as "intrigas" contra ele de nada adiantaram e reafirmou que o risco de um apagão energético no país não existe e há energia garantida, "sem racionamento e sem aumento de preços".Em discurso de improviso, Lula atribuiu a pessimistas a idéia de que se possa "repetir 2001", quando, na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, o país viveu uma crise no setor energético. Otimista, chegou a dizer que Lobão assume o cargo num momento "auspicioso do setor no Brasil" e alfinetou seus antecessores: "Obviamente que poderia estar muito melhor se anos atrás tivéssemos feito a lição de casa".
Carreira política
O presidente exaltou a "grandeza" da carreira política do novo ministro, mas expôs a falta de familiaridade dele com o tema que passará a gerenciar ao dizer que ele terá uma "surpresa extraordinária" quando conhecer as obras de energia que estão sendo feitas no país."Eu não poderia ser presidente porque era metalúrgico (...) Você não pode ser ministro porque você não é técnico, como se todo o técnico de futebol fosse o melhor jogador do time (...) Com a sua experiência política, você saberá detectar, dentro do setor energético brasileiro, a chamada inteligência viva do setor neste país e montar um ministério que possa ser motivo de orgulho".Lobão substituirá na pasta o petista Nelson Hubner, que assumiu o cargo de forma interina em junho passado após o afastamento do ministro Silas Rondeau, envolvido nas investigações da Operação Navalha.

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