sábado, 26 de janeiro de 2008

Delúbio se diz 'grato' a Valério por 'empréstimos'

Por Clarissa Oliveira
no Estado de São Paulo

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou em depoimento à Justiça Federal na terça-feira que é “muito grato” pelo fato de o publicitário Marcos Valério ter orquestrado um esquema para a contração de empréstimos que alimentaram os cofres petistas entre os anos de 2003 e 2004. No depoimento, ao qual o Estado teve acesso, ele reafirmou a versão de que agiu sozinho ao procurar o publicitário para resolver um rombo nas contas do PT. Mas chegou a falar como se ainda integrasse a direção petista. E até mesmo insinuou a possibilidade de débitos com Valério serem quitados no futuro.“Eu solicitei ao Marcos Valério esses empréstimos, ele fez, na época era um problema enorme, sou muito grato a isso”, disse o ex-tesoureiro, que, apesar de afirmar que agiu sozinho, usava o pronome no plural. “Foi essa a solução que nós encontramos. Deu errado, porque veio a crise, todas as denúncias e nós não devolvemos o dinheiro a ele ainda.” Delúbio se referia a cerca de R$ 55 milhões que teriam sido levantados em operações intermediadas por Valério, segundo o ex-tesoureiro para cobrir dívidas de diretórios regionais do PT e despesas de partidos da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Apesar de declarar que a escolha de pedir empréstimos a Valério coube exclusivamente a ele, Delúbio contou que a ordem para que buscasse uma solução para o buraco nas contas partiu da direção petista, em especial da Executiva Nacional. “Primeiro não é verdade que eu tomo decisão sozinho”, disse Delúbio, ao reagir a indagações da juíza Silvia Maria Rocha sobre a autonomia que tinha. “Fizemos uma reunião no Partido dos Trabalhadores, com todos os Estados, agora estou me lembrando, quase R$ 26 milhões era a dívida dos diretórios regionais. E eu apresentei esse problema à Executiva. A Executiva: ‘Encontra uma solução’.”Nesse encontro, segundo o ex-tesoureiro, estavam presentes nomes como o senador Aloizio Mercadante (SP), a ministra Marta Suplicy, o deputado Jorge Bittar (RJ), o então secretário-geral do PT Silvio Pereira, o ex-presidente da sigla José Genoino, além dos atuais secretários petistas Valter Pomar, de Relações Internacionais, Romênio Pereira, de Organização, e Joaquim Soriano, atualmente secretário-geral da legenda.Ao justificar a “confiança” de Marcos Valério no PT para realizar tantos empréstimos, Delúbio disse que a sigla havia multiplicado sua arrecadação naquela época, graças à eleição do presidente Lula. Por meio da cobrança de dízimos, contribuições financeiras e Fundo Partidário, as receitas anuais da sigla passaram da casa dos R$ 13 milhões em 2000 para R$ 48 milhões em 2004.

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