quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Nunca antes na história da Fifa

Editorial do Estado de São Paulo

Nada a opor - muito pelo contrário - ao empenho do governo do Brasil e ao de seus Estados mais importantes em tentar mostrar à Fifa e à comunidade internacional de investidores que nós temos - ou melhor, teremos - plenas condições de sediar a Copa do Mundo de 2014. Afinal, é justo que o único pentacampeão mundial de futebol, o maior fornecedor de craques aos melhores times estrangeiros, que estará em 2014 completando 64 anos da maior frustração da história do futebol brasileiro - a “perda” dramática da Copa de 1950 no “maior estádio do mundo” - única vez em que foi sede da competição esportiva mais importante do planeta -, seja escolhido, como candidato único, país anfitrião da Copa, daqui a sete anos. O empenho de nossos governantes se justifica, sobretudo, pela oportunidade de desenvolvimento turístico, criação de empregos, investimentos em infra-estrutura e demais benefícios que uma megaprodução desse quilate abre para o País. No entanto, est modus in rebus, como diziam os romanos. Há uma medida nas coisas, existem certos limites - especialmente para os que governam, diríamos. Eis por que chega a beirar o ridículo - para dizer o menos - a revoada governamental brasileira, de 1 presidente da República, 12 governadores de Estado e 2 ministros, transportando-se todos para a Suíça, no momento em que a Fifa oficializa o Brasil como sede da Copa de 2014. Certamente, nunca antes na história da Fifa houve algo parecido. A reunião da entidade internacional que comanda o futebol, em Zurique, para a escolha do país-sede da Copa de 2014 seria para a apresentação de cada candidato, caso o Brasil não fosse o candidato único. Assim, o que poderia ser uma competição, com cada qual mostrando os seus trunfos, tornou-se apenas uma cerimônia homologatória. Nem por isso, no entanto, deixou de tornar-se uma “jogada ensaiada” política, em que no tempo reservado à “defesa” da candidatura do Brasil a CBF exibiu, para os 22 membros do comitê executivo da Fifa, um vídeo exaltando o País e os feitos do governo Lula, destacando as ações federais de combate à pobreza e os investimentos previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).Entre os governadores, como era de esperar, estavam os mais fortes presidenciáveis tucanos - o governador paulista José Serra e o governador mineiro Aécio Neves -, que levaram para território suíço a que provavelmente será a disputa mais acirrada pela cadeira presidencial. Mas é claro que houve também uma disputa por interesses regionais, visto que o governador paulista pretende que seja no estádio do Morumbi a abertura da Copa - já que concorda que cabe ao Maracanã o direito de encerramento -, enquanto o governador mineiro alimenta a mesma pretensão em relação ao Mineirão. Forçoso é reconhecer (sem bairrismos) que em São Paulo está a melhor infra-estrutura de transportes, a melhor rede hoteleira, a melhor rede hospitalar, o melhor e mais diversificado padrão gastronômico, a maior movimentação econômica e tudo o mais que possa garantir pleno êxito a um evento dessa magnitude - considerando-se, ademais, o fato de sediar a mais bem-sucedida agremiação futebolística do País, única a conquistar o pentacampeonato brasileiro. Nem por isso o interesse regional dos dois governadores, o paulista e o mineiro, deveria levá-los a perpetrar suas disputas (político-esportivas, digamos) em território estrangeiro, fazendo passar para a comunidade internacional uma imagem assaz provinciana (sempre para dizer o menos). Também há que se reconhecer, por outro lado, que um grande esforço deve ser feito, nesses sete anos que nos separam da Copa que sediaremos - esforço esse, do poder público, que sem dúvida resultará em benefício permanente para a população brasileira -, especialmente nos campos da infra-estrutura (como transportes e saneamento) e da segurança pública. Bem é de ver que investigações que se façam em torno dos eventuais desmandos da cartolagem futebolística cabocla - o que já leva a propostas de instalação de CPI, com essa finalidade -, ao contrário de “espantar” investidores esportivos, poderão ter efeito positivo. A limpeza que se faça, nestes próximos 7 anos, de tudo o que exista de carcomido em nosso meio esportivo, e, particularmente, no meio futebolístico, só haverá de melhorar a imagem do pentacampeão mundial de futebol.

Nenhum comentário: