quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Quando a política já não ilude mais

Por Ana Paula Verly
no Jornal do Brasil

Duas décadas depois de conquistarem o direito ao voto, jovens entre 16 e 18 anos já não demonstram mais o mesmo interesse pelas urnas. As eleições deste ano terão o menor eleitorado jovem desde 1992 no município do Rio de Janeiro. A análise percentual mostra que a juventude politizada alcançou em 2008 a pífia marca de apenas 0,6% do total de eleitores. Para o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Roberto Wider, o desencanto com a política explica a evasão.
– É um natural desencanto dos jovens, diante do que vêem no noticiário. Mas eles deve superar esse comportamento e entender que eles é quem são as forças que podem mudar esse quadro politico – apregoa.
Os dados do TSE mostram que, em 1992, 0,87% do total do eleitorado carioca tinha 16 e 17 anos. Entre outubro de 1992 e junho de 2007 o número de eleitores desta faixa etária caiu quase pela metade em todo o país. O percentual mais alto, no Rio, foi registrado em 1994 (1,04%), durante a eleição presidencial da qual Fernando Henrique Cardoso saiu vitorioso. Em 2004, houve nova alta do número de eleitores (0,98%). Presidente do TSE no período entre 2001 e 2005, Luiz Carlos Madeira atribui a recuperação do eleitorado adolescente ao sucesso petista em 2002.
– As eleições 2004 foram seqüência das eleição 2002, quando houve a vitória do PT, uma coisa inusitada que animou os jovens. Foi um acontecimento que deu muita esperança aos jovens – analisa Madeira.
O ex-ministro concorda que as estatísticas atuais são sinal de desinteresse pela política, o que, em sua opinião, "não é bom".
– No início, o direito de menores de idade votarem foi cercado de polêmica e, ao mesmo tempo, de muito interesse pela vida política. Vejo o desinteresse atual como uma incompreensão sobre uma série de fatos políticos, principalmente sobre o Legislativo e o Executivo. A publicação de uma muitas de mazelas envolvendo estes poderes talvez levem a uma certa desilusão. Mas isto vai passar com o tempo – aposta Madeira.

Diretas Já é passado

A coordenadora do Núcleo de Pesquisa dos Jovens da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Miriam Paúra, observa no decorrer das últimas duas décadas o crescente desinteresse dos jovens pelo voto, em relação às gerações anteriores. Ela lembra que os jovens estiveram no front da luta contra a ditadura, nos anos 60 e 70, na conquista das "Diretas Já", nos 80, e até mesmo representados pelos cara-pintadas, no início dos 90, ainda que o derradeiro movimento juvenil tenha sido compelido mais pela balbúrdia que pela conscientização política dos participantes.
– Não há mais uma participação efetiva. Os diretórios das universidades viraram centros político-partidários e de atividades de lazer, onde o interesse não é mais a formação da cidadania – critica Miriam.
Além de mais empenho dos educadores no resgate do interesse dos jovens pela política, a professora sugere aos candidatos que promovam mais reuniões com esse segmento do eleitorado.

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