segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Usar Lula na TV ''tem peso zero'', diz especialista

Por Guilherme Scarance
no Estado de São Paulo

O horário eleitoral gratuito influencia - e muito - a opinião do eleitor, mas é uma ferramenta mal usada, por falta de foco e de compreensão do ponto de vista do eleitor. Quem avalia é o diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida, autor de livros como A Cabeça do Brasileiro e A Cabeça do Eleitor e Por que Lula?, além de doutor em ciência política e professor universitário. "A exposição é maior e atinge mais gente. Então ele, de fato, é responsável por muitas mudanças de voto", assinala.

Para o especialista em pesquisas e assessoramento de campanhas, os marqueteiros erram ao apostar no prestígio de personalidades, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para alavancar a popularidade de candidatos ao longo das eleições municipais. "Tem peso zero", garante. A seguir, a entrevista que concedeu ao Estado:

Qual é a importância do horário eleitoral gratuito no cenário atual?

Todos os elementos de comunicação são importantes. Debates, horário eleitoral gratuito e a campanha de rua são importantes. Agora, o horário eleitoral gratuito é mais importante, porque a exposição é maior e atinge mais gente. Então ele, de fato, é responsável por muitas mudanças de voto que vão acontecer agora. Exemplo: existem prefeitos muito bem avaliados cujos candidatos têm votação fraca. Com o horário eleitoral gratuito, o eleitor que quer continuidade, que não sabe quem é o candidato da continuidade, votará no candidato do prefeito.

O horário eleitoral pode tornar popular um político desconhecido?

Não. Eu tenho isso mapeado. Você não aumenta o nível de conhecimento durante a campanha. Isso é um grande achado e ninguém fala isso porque nunca montou esses dados. Eu não falava isso há um mês atrás, quando montei os dados. Eu achava que aumentava, mas é errado.

O sr. pode explicar melhor?

O nível de conhecimento que tem no início da campanha será o mesmo no fim. O nível de conhecimento aumenta no decorrer da vida política, depois de 1 ano, 2 anos, depois que disputa várias eleições, depois que é eleito deputado e é atuante. É um processo, não um evento isolado. E a campanha é um evento isolado, parte de um processo mais longo, de construir imagem de um candidato. O candidato pouco conhecido pode até ganhar a eleição, mas em circunstâncias extremadas.

Quais são elas?

Na maioria das vezes o candidato tem menos votos que o seu nível de conhecimento. A grande maioria, 90%, têm menos votos que o nível de conhecimento. Ter mais votos que o nível de conhecimento só em duas situações extremadas. Número 1: governo muito bem avaliado e prefeito pede para votar no candidato dele. O eleitor vota, mesmo não conhecendo bem, para dar continuidade. Número 2: um governo muito mal avaliado e o candidato de oposição desconhecido, que cresce e vence.

Então, de modo geral, o horário eleitoral serve para avançar entre eleitores que já conhecem o candidato?

Sim, ou entre quem quer continuidade, ou ainda entre quem quer mudança.

Qual é o peso de grandes figuras nacionais? Vamos citar o caso do presidente Lula. Ele terá peso em todos os locais em que apoiar um candidato ou há alguma variável?

Tem peso zero. O Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos várias vezes, dizia: "Quando apóio um candidato sabe quantos votos transfiro? Um voto, o meu." Quis dizer que prestígio você não transfere. Se Lula tiver peso, não consegue eleger um candidato desconhecido e não consegue eleger um prefeito muito mal avaliado. Em algum município, Lula vai apoiar um candidato do PT muito bem avaliado e ele vai vencer. Vencerá porque está muito bem avaliado, mas todo mundo vai dizer que foi o Lula.

Então é equivocada a estratégia de levar Lula ao horário eleitoral?

É uma estratégia baseada em uma crença mágica.

Essas estratégias em curso hoje no horário eleitoral gratuito - uns se dedicando a exclusivamente apresentar propostas, enquanto outros partem para o ataque - funcionam?


O horário eleitoral gratuito é mal usado no Brasil, porque os candidatos querem falar de tudo. Existe uma formulinha equivocada: um programa sobre saúde, um sobre educação, um sobre emprego. Isso é um equívoco gigante. O eleitorado dá peso aos problemas e, quanto mais uma campanha tiver foco, quanto mais próxima e monotemática for, mais efetiva é. O horário eleitoral gratuito não é usado assim no Brasil.

As esquisitices, principalmente na propaganda dos vereadores, tiram a atenção do eleitor?

Aquilo ali é estratégia. Já que ninguém o conhece, ele acha que fazendo esquisitice vai se tornar conhecido, mas não se torna. O eleitor dá mais atenção ao principal problema dele. Se quiser reter a atenção dele, tem de falar do principal problema e de como será resolvido.

Nos EUA, há uma grande participação da internet nas eleições. No Brasil isso pesará também?

Está só começando, ainda não vai disseminar. Mas no futuro vai ter peso.

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