quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Navios levam tensão ao Mar Negro

No Estado de São Paulo com agências internacionais

O Mar Negro tornou-se ontem o novo foco de tensão entre Rússia e Ocidente depois de Moscou ter anunciado que posicionaria sua frota na região como "medida de precaução". O anúncio foi feito depois que comandantes russos alertaram para o aumento do número de navios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - a aliança militar ocidental - no local. "Dado o estabelecimento de forças da Otan na área do Mar Negro, a frota russa também começou a tomar medidas para vigiar sua atividade", afirmou o chefe-adjunto do Estado-Maior russo, Anatoli Nogovitsin.A aliança confirmou a presença de quatro de seus navios de guerra na região, alegando que as embarcações estavam no local para "treinamento". No entanto, a Otan afirmou que outros países da aliança poderiam estar na região sem a ordem da organização. "Obviamente, outros membros da Otan estão fazendo isso, mas não posso falar em nome dessas nações", disse o tenente-coronel Web Wright, porta-voz da aliança.Moscou, porém, afirmou que o aumento de navios da Otan no Mar Negro viola um tratado de 1936, da Convenção de Montreux, que prevê um limite de três semanas para que países que não têm acesso ao local realizem manobras militares na região. Segundo Nogovitsin, o tratado estabelece que a Turquia - país que controla os acessos ao mar pelos Estreitos de Bósforo e Dardanelos - tem de ser notificada com 15 dias de antecedência antes de navios militares entrarem na região. "O acordo também estabelece um prazo máximo do 21 dias para que os navios permaneçam no mar e estipula um número limitado de embarcações", afirmou Nogovitsin.Dmitri Peskov, porta-voz do premiê Vladimir Putin, afirmou que a Rússia está tomando "precauções" contra os EUA e os navios da Otan. "A aparição de navios da Otan no Mar Negro e próximo da costa georgiana, assim como a entrega de ajuda humanitária utilizando navios de guerra, são difíceis de se explicar", afirmou Peskov. "Estamos tomando precauções e esperamos que a situação não chegue a uma confrontação direta." Na terça-feira, o presidente russo, Dmitri Medvedev, acusou os EUA de entregarem armas à Geórgia por meio de navios que levavam ajuda humanitária ao país. Washington negou as acusações, qualificando-as como "ridículas." Ontem, no entanto, um navio americano que deveria atracar em Poti - porto na Geórgia sob controle dos militares russos - decidiu atracar em Batumi para entregar ajuda humanitária.
PROVOCAÇÃO UCRANIANA
Em mais um sinal do aumento da tensão, a Ucrânia anunciou ontem que está estudando o aumento do preço cobrado da Rússia pelo aluguel da base naval de Sebastopol, na região da Criméia. O local serve como sede da esquadra naval russa no Mar Negro. O presidente ucraniano, Viktor Yushchenko, afirmou que o preço deveria ser discutido pois foi estabelecido abaixo do preço de mercado. A Rússia afirmou que qualquer renegociação quebraria um acordo de 1997 entre os dois países, sob o qual Moscou aluga a base por US$ 98 milhões por ano até 2017. Yushchenko ainda pressionou o Otan para que a aliança aceite a Ucrânia como um de seus membros. "Queremos entrar porque estamos convencidos de que hoje não existe outra maneira para proteger a integridade territorial da Ucrânia." A crise na Geórgia e o reconhecimento russo à independência de suas duas províncias separatistas - Ossétia do Sul e Abkásia - levantaram preocupações de que Moscou poderia intervir militarmente em outras repúblicas ex-soviéticas. Ontem, o chanceler francês, Bernard Kouchner, afirmou que depois da ofensiva contra a Geórgia, a Rússia parece ter como novo alvo a região da Criméia, na Ucrânia, e de Transdniester, na Moldávia. O vice-ministro da Defesa de Transdniester, Vladimir Atamaniuk, disse ontem que o reconhecimento da independência da região é apenas uma "questão de tempo".

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