terça-feira, 26 de agosto de 2008

Crédito avança, mesmo com juro alto

Por Fernando Nakagawa
no Estado de São Paulo

Famílias e empresas têm ignorado o aumento dos juros e continuam fazendo empréstimos. Relatório do Banco Central (BC) divulgado ontem mostra que, em julho, o custo médio do crédito no sistema financeiro atingiu 39,4% ao ano, o maior desde janeiro de 2007. Mesmo assim, o volume total de financiamentos cresceu 1,7% e alcançou R$ 1,067 trilhão. O valor correspondeu a 37% do Produto Interno Bruto (PIB), superou os 36,8% de janeiro de 1995 e estabeleceu novo recorde na série do BC. No entanto, aumentou a aposta de que haverá desaceleração do crédito em meio ao aperto monetário promovido pelo BC. A taxa básica (Selic) vem subindo desde abril, impulsionando os demais juros. E a alta deve persistir, apesar do esfriamento das expectativas da inflação. Em 13 de agosto, a taxa média do mercado já havia batido em 40% ao ano. No caso das pessoas físicas, o juro médio dos empréstimos chegou a 51,9% no fim de julho e já estava a 51,9% em meados de agosto. A taxa do cheque especial, a mais cara do mercado, atingiu 165,4% ao ano.O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que o aumento da renda tem dado segurança, mesmo com juros altos. Ele disse ainda que algumas financeiras e lojas alongam o prazo para diluir o impacto da Selic. "Isso permite que uma operação mais cara continue cabendo no orçamento das famílias." Considerando apenas as "operações livres", ou seja, empréstimos dos bancos sem determinação legal, o crédito das famílias cresceu 1,2% em julho e somou R$ 266,3 bilhões. Nas empresas, a demanda aquecida continua exigindo investimentos e, principalmente, capital de giro. Em julho, o crédito ao setor cresceu 1,3% e atingiu R$ 338,6 bilhões.O BC, no entanto, aposta em desaceleração e estima que o crédito deve terminar 2008 com expansão de 22% a 25%, ante crescimento acumulado de 32,7% nos últimos 12 meses. Com isso, Altamir acredita que o Brasil deve encerrar o ano com o volume de crédito na casa de 40% do PIB, uma marca inédita.Segundo o diretor-executivo do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, Emerson Kapaz, dois sinais indicam que haverá desaceleração. Para ele, a concessão de crédito ficou mais criteriosa com a alta da inflação e com o aperto monetário. Isso pode ser visto no spread bancário - diferença entre a taxa de captação e de aplicação dos recursos pelos bancos. Em julho, o spread médio subiu para 25,6 pontos. "A análise de risco dos bancos pede mais cuidado e o spread incorpora esse risco", completa Altamir.Outro fator citado por Kapaz é a inadimplência. Em julho, a parcela dos créditos com atraso acima de 90 dias subiu de 4% para 4,2%. "A piora era esperada porque o crédito cresceu muito rápido."

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