sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lula quer fatiar recursos do pré-sal

Por Karla Correa
no Jornal do Brasil

Diante dos pedidos incessantes de todos os prédios da Esplanada dos Ministérios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que cada pasta receberá o "possível" dos recursos do petróleo extraídos da camada pré-sal.
– Nós daremos a cada ministério aquilo que for possível dar. Nem mais, nem menos – disse Lula, em resposta ao recém-empossado Juca Ferreira, titular do Ministério da Cultura, em substituição a Gilberto Gil.
– Queremos que a cultura seja pensada também como política estratégica e, portanto, seja possível ter acesso a esses recursos – disse Juca Ferreira, fazendo coro com outras pastas. Na segunda-feira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já havia pleiteado seu quinhão do pré-sal, defendendo aumento nos royalties pagos à Marinha pelo petróleo explorado na costa brasileira. O mesmo aconteceu com o titular da Educação, Fernando Haddad.
As reservas de petróleo na camada pré-sal, os resultados de políticas de combate à pobreza e os números positivos da economia foram os motes do ultra-positivo balanço apresentado ontem pelo presidente Lula – dois anos antes do fim de seu segundo mandato – a uma massa de empresários, sindicalistas, ministros e líderes governistas do Congresso reunidos no Palácio do Planalto em uma versão estendida do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Bilhete premiado

Em discurso de tom ufanista, o presidente disse que o pré-sal é um "bilhete premiado" para o país. Também fez afagos à Petrobras, em meio a comentários de que a empresa ficará de fora da exploração dos novos campos de petróleo.
– O pré-sal é um passaporte para o futuro e sua principal destinação deve ser a educação das novas gerações e o combate à pobreza – disse.
Em discurso escrito pelo ministro da Comunicação, Franklin Martins, e ensaiado nas duas horas de reunião no gabinete presidencial, no dia anterior, o presidente enfatizou que o governo pretende, com a exploração dos novos campos, incentivar o crescimento da cadeia produtiva de petróleo, exportando não o óleo cru, mas seus derivados. Essa diretriz foi, de acordo com Lula, uma das três recomendações dadas ao grupo interministerial encarregado de elaborar um modelo para a exploração do combustível encontrado abaixo de 7 mil metros no fundo do oceano, no litoral brasileiro.

Orientações

– A segunda orientação é que nossa Constituição diz que as reservas de petróleo são da União. Não podermos perder isso de vista. Terceira recomendação: não é porque tiramos um bilhete premiado que vamos nos deslumbrar e sair gastando dinheiro que ainda não temos.
De acordo com o presidente, a Petrobras ganhará importância mundial com o início da exploração dos campos pré-sal.
– A empresa, que levou mais de 50 anos para conquistar a auto-suficiência, fez as descobertas das enormes jazidas do pré-sal, que tornarão ainda mais importante a sua posição no cenário mundial – afirmou o presidente em seu discurso. A declaração acontece no momento em que o governo discute um modelo de exploração que pode incluir a criação de uma nova estatal para gerir as reservas ainda não exploradas. Segundo Lula, até o fim de setembro o grupo de ministros encarregados da discussão deve apresentar sua proposta de modelo ao presidente para, em seguida, abrir a discussão com a sociedade sobre a exploração do pré-sal.

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