quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Lula, CPMF, golpe e outras coisas

Do site Senadores na Mídia do dia 27.08.1999

Mônica Gugliano BRASÍLIA. No palanque montado na Esplanada dos Ministérios, diante dos milhares de manifestantes da marcha, os dirigentes de todos os partidos de oposição subiram o tom. E a palavra de ordem acabou sendo mesmo "Fora FHC". O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que não tinha divergências com o presidente do PDT, Leonel Brizola, sobre a necessidade de o presidente Fernando Henrique Cardoso renunciar. Apenas não acreditava nessa possibilidade. - Só tenho uma discordância com Brizola. Renúncia é um gesto de grandeza. Só um grande homem tem essa grandeza. Fernando Henrique não tem. Ele é orgulhoso e prepotente - afirmou. Horas antes, no Congresso, Lula pediu a saída de Fernando Henrique do cargo: - Se Fernando Henrique avaliasse as pesquisas como negação à sua política e tivesse bom senso, quem sabe chegasse à conclusão de que sair é melhor. Mas se quer continuar levando o Brasil deste jeito... No discurso, Lula, dizendo estar emocionado, assinalou: - Estou duplamente gratificado, porque conseguimos dizer a Fernando Henrique e a sua corja que nunca mais ousem duvidar da capacidade de organização da sociedade brasileira. As pessoas não estão aqui por causa de um lanche de brinde, mas para recuperar a auto-estima e a dignidade. Lula reiterou que a marcha era apenas o começo, porque os protestos, a partir de agora, só vão aumentar e, cada vez, disse, serão maiores. - Como diz a torcida do Corinthians, vamos arrasar. Porque Fernando Henrique, se a corda apertar, viaja para Paris. Nós ficamos aqui comendo o pão que o diabo amassou. Esta pátria é nossa. Antes do discurso do petista, Brizola disse que não está disposto a aceitar a recomendação de que a oposição deve trabalhar com calma e serenidade. Segundo ele, isso não é possível porque a população que está com fome não pode mais esperar. Além disso, afirmou, Fernando Henrique ocupa a Presidência da República de maneira indevida. - Esse homem passou por cima da Constituição. Tramou, rasgou a Constituição. Foi eleito para um mandato, não lhe deram poder para mais um mandato, que ele conquistou com manobras vergonhosas e escandalosas. Enganou o povo, escondeu a crise. Não tem legitimidade, falhou e é responsável pela crise. Ao menos deveria praticar esse ato de patriotismo e renunciar. Brizola acrescentou que, se fosse preciso, os partidos de oposição estariam dispostos a juntar cinco, dez, 15 e até 20 milhões de assinaturas para que o presidente renuncie. E, com mais ou menos ênfase e até com a justificativa de que a reivindicação era de mudanças na política econômica, esse foi o discurso de todos. O presidente do PT, José Dirceu, seguiu essa linha. Disse, primeiro, que Fernando Henrique tentara intimidá-los afirmando que a manifestação era golpista. Em seguida, arrematou: - O grito do Brasil é de que ou Fernando Henrique muda de modelo econômico ou o Brasil vai mudar de governo. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, disse que o Governo é que levara um golpe porque afirmara que a manifestação seria pequena. - Viemos de bicicleta, a pé, de ônibus e até de jumento, o Governo é que levou esse golpe. E outro que também levou golpe foi Antônio Carlos Magalhães (presidente do Senado), que apostou na violência e nada aconteceu. Golpe mesmo é a CPMF. É o FMI que controla Malan (o ministro da Fazenda, Pedro Malan). Não podemos esperar. Quando Fernando Henrique quis a reeleição mudou a Constituição. Então também podemos mudá-la já para que ele saia - afirmou. Um dos principais dirigentes do MST, João Pedro Stédile disse que condiciona a permanência de Fernando Henrique à aplicação imediata de um programa econômico de emergência com quatro pontos: rompimento com o FMI, moratória da dívida interna, confisco de R$ 7 bilhões que teriam sido especulados pelos bancos na mudança da política cambial e suspensão do envio de dólares ao exterior. - Se Fernando Henrique não atender ficará isolado politicamente. A situação só vai piorar - disse Stédile.

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