Mônica Gugliano BRASÍLIA. No palanque montado na Esplanada dos Ministérios, diante dos milhares de manifestantes da marcha, os dirigentes de todos os partidos de oposição subiram o tom. E a palavra de ordem acabou sendo mesmo "Fora FHC". O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que não tinha divergências com o presidente do PDT, Leonel Brizola, sobre a necessidade de o presidente Fernando Henrique Cardoso renunciar. Apenas não acreditava nessa possibilidade. - Só tenho uma discordância com Brizola. Renúncia é um gesto de grandeza. Só um grande homem tem essa grandeza. Fernando Henrique não tem. Ele é orgulhoso e prepotente - afirmou. Horas antes, no Congresso, Lula pediu a saída de Fernando Henrique do cargo: - Se Fernando Henrique avaliasse as pesquisas como negação à sua política e tivesse bom senso, quem sabe chegasse à conclusão de que sair é melhor. Mas se quer continuar levando o Brasil deste jeito... No discurso, Lula, dizendo estar emocionado, assinalou: - Estou duplamente gratificado, porque conseguimos dizer a Fernando Henrique e a sua corja que nunca mais ousem duvidar da capacidade de organização da sociedade brasileira. As pessoas não estão aqui por causa de um lanche de brinde, mas para recuperar a auto-estima e a dignidade. Lula reiterou que a marcha era apenas o começo, porque os protestos, a partir de agora, só vão aumentar e, cada vez, disse, serão maiores. - Como diz a torcida do Corinthians, vamos arrasar. Porque Fernando Henrique, se a corda apertar, viaja para Paris. Nós ficamos aqui comendo o pão que o diabo amassou. Esta pátria é nossa. Antes do discurso do petista, Brizola disse que não está disposto a aceitar a recomendação de que a oposição deve trabalhar com calma e serenidade. Segundo ele, isso não é possível porque a população que está com fome não pode mais esperar. Além disso, afirmou, Fernando Henrique ocupa a Presidência da República de maneira indevida. - Esse homem passou por cima da Constituição. Tramou, rasgou a Constituição. Foi eleito para um mandato, não lhe deram poder para mais um mandato, que ele conquistou com manobras vergonhosas e escandalosas. Enganou o povo, escondeu a crise. Não tem legitimidade, falhou e é responsável pela crise. Ao menos deveria praticar esse ato de patriotismo e renunciar. Brizola acrescentou que, se fosse preciso, os partidos de oposição estariam dispostos a juntar cinco, dez, 15 e até 20 milhões de assinaturas para que o presidente renuncie. E, com mais ou menos ênfase e até com a justificativa de que a reivindicação era de mudanças na política econômica, esse foi o discurso de todos. O presidente do PT, José Dirceu, seguiu essa linha. Disse, primeiro, que Fernando Henrique tentara intimidá-los afirmando que a manifestação era golpista. Em seguida, arrematou: - O grito do Brasil é de que ou Fernando Henrique muda de modelo econômico ou o Brasil vai mudar de governo. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, disse que o Governo é que levara um golpe porque afirmara que a manifestação seria pequena. - Viemos de bicicleta, a pé, de ônibus e até de jumento, o Governo é que levou esse golpe. E outro que também levou golpe foi Antônio Carlos Magalhães (presidente do Senado), que apostou na violência e nada aconteceu. Golpe mesmo é a CPMF. É o FMI que controla Malan (o ministro da Fazenda, Pedro Malan). Não podemos esperar. Quando Fernando Henrique quis a reeleição mudou a Constituição. Então também podemos mudá-la já para que ele saia - afirmou. Um dos principais dirigentes do MST, João Pedro Stédile disse que condiciona a permanência de Fernando Henrique à aplicação imediata de um programa econômico de emergência com quatro pontos: rompimento com o FMI, moratória da dívida interna, confisco de R$ 7 bilhões que teriam sido especulados pelos bancos na mudança da política cambial e suspensão do envio de dólares ao exterior. - Se Fernando Henrique não atender ficará isolado politicamente. A situação só vai piorar - disse Stédile.
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