sábado, 14 de junho de 2008

PF pode apurar relação de Dirceu com prefeito preso

Por Eduardo Kattah
no Estado de São Paulo

A Polícia Federal admitiu ontem que pode instaurar inquérito para apurar a suposta relação entre o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) e o prefeito de Juiz de Fora, Carlos Alberto Bejani (PTB). Em vídeo apreendido pela PF, Bejani diz que se encontraria com Dirceu para negociar a liberação de R$ 70 milhões - o que garantiria, segundo declarou, uma "comissão" de R$ 7 milhões. No vídeo, que integra o conjunto probatório da Operação Pasárgada, o prefeito se refere a um financiamento da Caixa Econômica Federal aprovado pelo Ministério das Cidades para obras no Rio Paraibuna, que corta Juiz de Fora, como parte do programa Saneamento Para Todos, do governo federal. Esse contrato de financiamento será investigado pela PF.A gravação, divulgada anteontem pelo site da revista Época seria de 10 de maio de 2006. Bejani, enquanto contava dinheiro supostamente de propina paga pelo empresário Francisco José Carapinha, o Bolão, diz que horas depois se encontraria com Dirceu em Belo Horizonte para tratar da liberação.O delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Alessandro Moretti, considerou a citação de Bejani um fato "apartado" das investigações que envolvem a Operação Pasárgada - que apura um esquema envolvendo liberação irregular do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).Moretti explicou que o conjunto de vídeos apreendido em abril - quando foram presas 50 pessoas, incluindo Bejani, outros 16 prefeitos e um juiz - foi analisado recentemente e a corregedoria ainda não decidiu sobre a abertura de inquérito. "Diante dessa necessidade de ação rápida não foi possível ainda tomar essa decisão. Mas, obviamente, vão ser tomadas as providências necessárias, até porque não é só a Polícia Federal que decide. Existe o Ministério Público e o Judiciário, que, provavelmente, vão determinar alguma providência."As análises do material apreendido e os depoimentos colhidos levaram a PF a desencadear uma nova ação, batizada de Operação de Volta para Pasárgada, na qual Bejani e Bolão foram presos, anteontem. Em depoimento à PF, Bejani, segundo o advogado Marcelo Leonardo, negou que tivesse se encontrado com Dirceu e disse que a suspeita de pagamento de propina na liberação do financiamento não tinha "nenhuma pertinência nem procedência". O prefeito e Bolão sustentam a versão de que a filmagem constitui uma "simulação".O ministro das Cidades negou ontem ter sofrido influência de Dirceu para liberar recursos ou atender a interesses de Bejani. "Quero deixar isso bem claro: é uma operação de empréstimo junto a um agente financeiro, a Caixa, que avalia a viabilidade e os riscos. Nós apenas enquadramos e mandamos para lá." Ele admitiu que esteve em Juiz de Fora para a cerimônia de liberação dos recursos, mas alegou que costuma prestigiar projetos que envolvem "valores altos" ligados à sua pasta.

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