segunda-feira, 9 de junho de 2008

Consultor fez contatos em nome de Paulinho

Por Rubens Valente e Afonso Benites
na Folha de São Paulo

Gravação telefônica feita com ordem judicial na Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, indica que o consultor João Pedro de Moura, preso em abril, falou com o Ministério dos Esportes em nome do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho.Em 26 de março último, uma funcionária do gabinete de Paulinho telefonou para Moura para perguntar se poderia fazer uma conferência telefônica entre o deputado e o ministro Orlando Silva (PC do B). Moura respondeu que o assunto já estava resolvido e que "depois explicaria a Paulinho". "(...) Está tudo certo lá, só tá faltando publicar o Orçamento", disse Moura à secretária.Outras gravações demonstram vários contatos entre Moura e duas funcionárias do gabinete de Paulinho em Brasília nos meses de fevereiro, março e abril. Numa gravação, ele conta à sua mulher que estava "almoçando na casa" do deputado. Outras três gravações confirmam que Moura se reuniu com o irmão de Paulinho, Valdir Pereira, na cidade de Francisco Morato (SP).Desde o anúncio da investigação da PF, em 24 de abril, Paulinho tem procurado se dissociar de Moura, que atuou como conselheiro do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) por indicação do parlamentar.Em entrevista coletiva em Mairiporã (SP), em 9 de maio, o deputado descreveu Moura como mero "consultor da Força Sindical" de São Paulo. Numa entrevista ao "Correio Braziliense" na semana passada, disse que Moura "inventou" um cartão apreendido pela PF no qual se identificava como assessor do deputado. "Falsificou um cartão meu para se apresentar como um assessor. E obter vantagem. Ele não é assessor", disse o deputado.Moura também procurou preservar Paulinho. Em depoimento à Justiça Federal, disse que seu relacionamento com o parlamentar era "profissional", mas não foi indagado sobre detalhes dessa relação.
Convites
A Operação Santa Tereza traz também grampos telefônicos nos quais o coronel reformado da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Júnior, um dos presos na operação, combina a distribuição de convites para diversos oficiais da PM e policiais civis de Osasco para uma festa de peão boiadeiro ocorrida na cidade entre os dias 12 e 22 de abril.Numa das gravações, Consani disse que a idéia da distribuição dos convites em "camarotes vip" surgiu numa reunião com o próprio Paulinho. A Força Sindical tem organizado festas populares. Segundo a Força, Consani era o responsável pela segurança das festas do 1º de Maio. Não fica clara, na interceptação, qual a ligação da Força com o rodeio de Osasco.
Telefonia
Outro grampo indica que o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) procurou Paulinho para que fizessem "um acordo" em torno da compra da companhia telefônica Brasil Telecom pela Oi (antiga Telemar), que estava sob análise no BNDES.A gravação data de 1º de março, antes das prisões feitas pela PF na operação. Paulinho ligou para o advogado Ricardo Tosto, que na época ocupava o cargo de conselheiro do banco por indicação da Força Sindical. Em meados de fevereiro, Tosto e Paulinho haviam feito críticas públicas sobre a falta de garantias de emprego para os funcionários das duas telefônicas. O negócio foi fechado em abril.

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