sábado, 2 de fevereiro de 2008

Brasil quer retomar mediação de reféns

Por Andrei Netto
no Estado de São Paulo

Brasil e França querem remontar o grupo de países que tentou intermediar, em dezembro, a libertação de Clara Rojas e Consuelo González, ex-reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A revelação foi feita ontem, em Paris, pelo assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, após um encontro com representantes diplomáticos da França.O grupo, então formado por Brasil, Argentina e Cuba - além de França, Suíça e Espanha, negociadores oficiais -, e da Venezuela, interlocutor com os rebeldes, intermediou com o auxílio de organizações não-governamentais a libertação das reféns, em janeiro. Se reorganizado, o grupo promoveria um esforço internacional para conseguir um acordo humanitário capaz de garantir a libertação dos 44 reféns políticos mantidos pela guerrilha. Entre os seqüestrados está a ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt.A reunião em que a iniciativa foi debatida aconteceu na tarde de ontem, no Quai Branly, o Ministério das Relações Exteriores da França. Após o encontro com Daniel Parfait, diretor de Américas do ministério e marido de Astrid Betancourt, irmã de Ingrid, Garcia destacou a urgência do resgate dos reféns. “Estamos diante de uma situação humanitária muito difícil. Ingrid não está em boas condições de saúde”, disse Garcia.A reunião dos países no esforço diplomático, porém, só acontecerá com a aprovação do presidente colombiano, Álvaro Uribe, e com o conhecimento de seu homólogo venezuelano, Hugo Chávez. Uma das funções do grupo será garantir o diálogo entre os dois presidentes, prejudicado pelo rompimento de relações em dezembro. Outro desafio será superar o novo impasse criado por Uribe. Desde o dia 26, as Forças Armadas colombianas têm ordem de localizar e cercar os acampamentos das Farc nos quais houver reféns, uma forma, segundo o governo, de pressionar pela libertação. Sem mencionar o assunto, Garcia elogiou o líder colombiano. “O presidente Uribe tem muita capacidade política.” Garcia destacou ainda a capacidade de negociação de países como Cuba e Argentina no impasse e disse que o Brasil nunca exerceu um papel de intermediário entre o governo colombiano e as Farc por não ter interlocutores com os guerrilheiros.Além do interesse humanitário, o governo brasileiro acredita que o eventual acordo de paz entre o governo e os guerrilheiros pode favorecer a integração da América Latina. “O problema dos reféns tem de ser resolvido para ajudar a integração sul-americana. O tema não ajuda e já criou um contencioso entre a Colômbia e a Venezuela”, estimou Garcia, lembrando que um acordo complexo foi feito entre o Exército Republicano Irlandês (IRA) e o governo britânico para pôr fim ao conflito. “Se o acordo humanitário continuar na Colômbia, podemos ter a esperança de chegar a um acordo de paz no futuro.”

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