quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Tarso manda PF interrogar ex-agente preso sobre Jango

Por Simone Iglesias
na Folha de São Paulo

O ministro Tarso Genro (Justiça) determinou ontem à Polícia Federal (PF) que interrogue o ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro, preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS).Ele, que cumpre pena por tráfico de armas, roubo de carro-forte e falsidade ideológica, afirmou à Folha que espionou o presidente João Goulart (1918-1976) por quatro anos no exílio e que participou de operação que teria como objetivo matá-lo. Ele não mostrou provas sobre isso. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976, oficialmente de ataque cardíaco.Para reforçar a investigação, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) encaminhou ontem à Procuradoria Geral da República pedido para que Barreiro seja ouvido pelo Ministério Público Federal. A família Goulart já havia pedido à Procuradoria investigação sobre as declarações do uruguaio.Miro conversou por telefone com Tarso, que lhe informou da determinação à PF. À tarde, a orientação de Tarso chegou à Superintendência da Polícia Federal do RS. A assessoria da PF disse que o procedimento para colher o depoimento ainda não foi instaurado, o que ocorrerá nos próximos dias."A Procuradoria e a polícia podem verificar se o que o ex-agente fala tem fundamento", afirmou Teixeira.O colunista da Folha Carlos Heitor Cony, que esteve com Barreiro em 2002, afirmou que o relato feito à época, semelhante às declarações dadas pelo ex-agente este ano, lhe pareceu fantasioso, mas continha dados que faziam sentido.Cony e a jornalista Anna Lee entrevistaram Barreiro quando faziam pesquisa para o livro "O Beijo da Morte" (Objetiva, 2003). "Não acho que Geisel [presidente Ernesto Geisel] tenha dado o ordem [para matar Jango] pessoalmente, mas o aparelho da repressão do governo, do Geisel para baixo, fez muitas coisas", afirmou Cony.O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse ontem que a representação dos familiares de Goulart vai ser encaminhada para o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul até o início de fevereiro. "De uma coisa tenho certeza, não é da competência do procurador-geral da República", disse.

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