quinta-feira, 22 de maio de 2008

BB negocia compra da Nossa Caixa

Por Fernando Nakagawa
no Estado de São Paulo

O Banco do Brasil (BB) surpreendeu o mercado financeiro na noite de ontem, ao anunciar que iniciou conversas para incorporar o banco estatal paulista Nossa Caixa. Com o negócio, o BB quer ganhar força para fazer frente aos concorrentes privados, que têm crescido nos últimos anos com a compra de instituições. Se realizada, a aquisição pode levar o BB a disputar a liderança do mercado paulista, onde o banco federal ocupa, atualmente, a quarta posição.A idéia de incorporar a Nossa Caixa foi da direção do BB, segundo disse o presidente do BB, Antônio Lima Neto, após a divulgação de fato relevante ao mercado. A proposta foi feita ao governo de São Paulo, controlador da Nossa Caixa, que aceitou iniciar negociações para um eventual fechamento do acordo. Segundo ele, as conversas iniciais não foram feitas com o governador José Serra e envolveram apenas técnicos do banco paulista. Para que o negócio seja concretizado, é preciso autorização da Assembléia Legislativa do Estado.Segundo fontes ligadas ao governador Serra, a negociação começou há cerca de um mês e a decisão de divulgá-la foi tomada porque a Nossa Caixa está no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Essa fonte também confirmou a informação de que a negociação tem sido feita diretamente com os diretores do banco, sem a participação de Serra ou de qualquer outra autoridade do governo paulista. O grande atrativo para o BB, de acordo com a fonte, são os R$ 12 bilhões que a Nossa Caixa possui de depósitos judiciais. Lima Neto informou que a intenção do BB com o negócio é ganhar força no principal mercado bancário brasileiro. Atualmente, segundo a direção do BB, o banco federal, que é líder no ranking nacional, é apenas o quarto maior no Estado. "Em dando certo o negócio, o BB entraria no bloco de liderança", disse. "Reforçaria a presença no Estado que é a mais competitiva arena do mercado bancário brasileiro."Bradesco, Itaú e Santander/Banespa/Real ocupam os primeiros lugares no mercado paulista. Atualmente, a Nossa Caixa possui 552 agências no Estado de São Paulo e o BB conta com 682 pontos. Na Grande São Paulo, a Nossa Caixa tem 129 locais de atendimento e o BB, 313 agências. A estratégia do BB de crescer com a absorção de bancos estaduais não é nova. No ano passado, o banco iniciou a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Atualmente, além da Nossa Caixa, o BB tenta incorporar o Banco de Brasília (BRB). "O desafio central do BB é manter o banco como importante player (participante) desse mercado", disse Lima Neto, ao explicar que esse objetivo só pode ser alcançado com o "aumento da capacidade de oferta e presença".A partir de agora, o BB e a Nossa Caixa iniciam as conversas técnicas para tentar fechar o negócio. Lima Neto não deu qualquer prazo e informou apenas que o cronograma a ser seguido será técnico. Segundo ele, será criado um grupo de trabalho que vai montar uma agenda e iniciar os trabalhos de avaliação da situação da Nossa Caixa. "Esse grupo técnico é que vai dar o ritmo das negociações", disse. "A intenção é que tudo isso possa ocorrer o quanto antes", completou.
HISTÓRICO
Os rumores de que o BB estaria negociando a aquisição da Nossa Caixa surgiram pela primeira vez em abril do ano passado. Na ocasião, a informação foi negada pelas duas instituições. A Nossa Caixa, por exemplo, argumentou, à época, que não tinha interesse em vender suas operações, porque acabara de ganhara a concorrência para ficar com a folha de pagamento dos funcionários públicos do Estado de São Paulo.Na mesma ocasião, o vice-presidente de finanças do BB, Aldo Luiz Mendes, chegou a dizer que havia "impedimentos legais" para que o BB fizesse a aquisição. Ele afirmou que a única forma de o banco crescer era por meio de um esforço próprio para melhorar a eficiência e a rentabilidade.A Nossa Caixa abriu o capital em 2005. Suas ações começaram a ser negociadas no Novo Mercado da Bovespa no dia 28 de outubro daquele ano. Ontem, os papéis do banco fecharam em alta de 0,69%, a R$ 27,60. Em 2008, acumulam valorização de 17,5%. Nos últimos 12 meses, registram perda de 13,2%. O atual presidente da instituição é o economista Milton Luiz de Melo Santos.

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