segunda-feira, 19 de maio de 2008

CPI dos Cartões mira em dois servidores citados por vazador

Por Andreza Matais e Simone Iglesias
na Folha de São Paulo

Integrantes da CPI dos Cartões tentarão aprovar até amanhã a convocação de mais dois funcionários da Casa Civil supostamente envolvidos na produção e no vazamento do dossiê com gastos do governo Fernando Henrique Cardoso.Norberto Temóteo Queiroz, secretário de administração, e Marcelo Veloso Nascimento, assistente de auditoria da Secretaria de Controle Interno, foram citados no depoimento na Polícia Federal de José Aparecido Nunes Pires, responsável pelo vazamento dos dados e indiciado sob a acusação de quebra de sigilo funcional.Segundo o ex-secretário de controle interno da Casa Civil, partiu de Temóteo o pedido para que ele cedesse funcionários para ajudar no trabalho. Foram escolhidos Veloso e Humberto Gomes Júnior. "Ele [Temóteo] explicou que precisava organizar um banco de dados. A CPI estava sendo instalada", afirmou José Aparecido na PF.O ex-secretário disse que recebeu de Veloso cópia do dossiê gravada em um pen drive.Veloso afirmou à Folha que não se manifestaria sobre o envolvimento de seu nome. "Não vou comentar. Preciso primeiro consultar algumas pessoas antes de me pronunciar." Subordinado a Aparecido, ele está no cargo desde outubro.Temóteo acompanha a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desde a época em que ela respondia pela pasta de Minas e Energia -foi o coordenador-geral de orçamento e finanças. Segundo a Folha apurou, ele participou da reunião em 8 de fevereiro, convocada pela secretária-executiva Erenice Guerra, que montou a força-tarefa para preparar o dossiê. Ele não foi encontrado ontem pela reportagem.Já há na pauta um requerimento do senador José Nery (PSOL-PA) para a convocação de Temóteo. O deputado federal Vic Pires (DEM-PA) apresenta hoje pedido para que a CPI também ouça Veloso."É importante que os dois sejam ouvidos porque existe uma cadeia de comando e precisamos chegar a quem esteve hierarquicamente à frente do dossiê. Norberto agiu sob orientação de quem? De Erenice? E Erenice?", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).No depoimento na PF, Aparecido afirmou que não saberia dizer se houve participação de Erenice ou de Dilma, porque seu contato teria sido exclusivamente com Temóteo.A base aliada não concorda com as convocações. "Aparecido já esclareceu tudo. Disse que foi um engano, o que desmonta a tese do dossiê para constranger a oposição", declarou Paulo Teixeira (PT-SP).A Folha apurou que Aparecido repetirá na CPI a versão que apresentou na PF de que enviou o arquivo por engano. "Reconheço que saiu da minha máquina, mas foi sem dolo ou má-fé. Tive uma surpresa quando percebi que tinha enviado", disse, segundo o inquérito.O ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) afirmou ontem que o Planalto "torce" para que o ex-secretário diga exatamente o que aconteceu, "que foi uma troca de informações entre amigos".O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto aprecia hoje o pedido de reconsideração feito por Aparecido para que possa comparecer à CPI com o advogado, ficar em silêncio e não assinar compromisso de dizer a verdade na condição de investigado.Os depoimentos dele e de André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que recebeu o dossiê por e-mail de José Aparecido, estão previstos para amanhã.

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