sábado, 4 de outubro de 2008

Muitas dúvidas sobre o plano de socorro

Por Osmar Freitas Júnior
no Jornal do Brasil

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou por 263 votos contra 171, o pacote de estímulos para recuperação econômica do país. Com versão original rejeitada na segunda-feira passada, coube ao Senado alterar o conteúdo das medidas, aprová-lo na quarta-feira, e remeter a nova versão para outra votação na Assembléia. A princípio, o Tesouro americano pedia US$ 700 bilhões em um plano apresentado em três folhas de papel.
Entre as idas e vindas pelo Congresso, o documento ganhou mais de 400 páginas, e sofreu inflação de US$ 110 bilhões no custo final. O valor agregado provém de incentivos, que nada têm a ver com o combate à crise monetária. Serviram, porém, para mudar os votos de deputados contrários ao primeiro projeto.

Incentivos supérfluos

Na conta final, incluíram-se, por exemplo, incentivos fiscais à indústria de flechas de brinquedo, e à produção de rum em Porto Rico – país que nunca pareceu desencorajado no trato com este tipo de bebida. De todo modo, a sanção gerou alívio geral, ainda que a maioria dos analistas não acredite que esta seja a solução final para para o problema.
A importância do plano já era sentida pelo fato de merecer agora nome próprio de batismo: Troubled Asset Relief Plan (Tarp) ( algo como plano de alívio para patrimônios prejudicados). O presidente George W. Bush, no mesmo dia, deu chancela ao decreto. O Tesouro deve começar imediatamente leilões de compras de papéis de empréstimos podres: primeiro de bancos regionais com problemas, depois de empresas de investimento.
– Trata-se de um band-aid para quem está com hemorragia, mas foi necessário. Sem ele o paciente morreria mais cedo – sentienciou o megainvestidor George Soros, do Soros Found Management.
O professor de finanças Jacob Yarrof, da Universidade da Califórnia, usou para o JB, imagem didática original sobre a situação.
– É como se um herói de filme tivesse sido jogado para fora de um avião. Estava em queda livre, com velocidade aumentando rapidamente. Se ninguém tomasse providências, ele se esborracharia no chão. Mas lhe jogaram um pára-quedas. O corpo continua caindo, só que poderá fazê-lo mais devagar – avalia Yarrof.
Neste primeiro momento, o instrumento ainda não foi vestido e, portanto, o que se tem é apenas uma esperança. Assim que se ativar o pára-quedas, será preciso controlá-lo muito bem.
Na opinião do professor de finanças, o herói deseja pousar de maneira suave. Se for destrambelhado, não agir com inteligência, ele pode chocar-se contra uma árvore e quebrar o pescoço. Ou, ainda, machucar os pés numa aterrissagem acidentada, o que o impediria de sair dali e procurar escalar uma montanha para chegar numa cidade e resumir sua vida normal.
Outro analista econômico, Paul Kedrosky, ao prever o futuro, dispensa fabulário e vai direto ao ponto:
– O enxugamento do crédito no mercado vai acalmar um pouco, mas os spreads vão continuar gigantescos, com taxas devastadoras para os tomadores de empréstimos. O Fed vai baixar as taxas de juros ainda mais, levando-as a um território igual ao japonês, com percentagem zero. Não mudará a situação, apenas aliviará a pressão – sentencia Kedrosky. – Algum tempo depois das eleições presidenciais, com o mercado de crédito ainda caótico, bancos caindo por todos os lados, e sem vislumbre de final da crise no horizonte, o novo presidente terá de arquitetar um Tarp II.
O analista acredita que, no topo da agenda, constarão os itens mais estímulos fiscais e recapitalização do sistema bancário, com o governo escolhendo os beneficiários favoritos.
A antecipação de novas medidas já começará, do outro lado do Atlântico, no sábado, quando autoridades econômicas do Reino Unido, França, Itália e Alemanha se reunirão em Paris. A meta é a confecção de pacote próprio para proteger a União Européia e ajudar a aliviar a crise também nos Estados Unidos. Mas o próximo presidente americano só assumirá em cerca de quatro meses, e antes disso o mercado globalizado não sabe ao certo, com que filosofia de tratamento poderá recuperar a economia doente.

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