terça-feira, 30 de setembro de 2008

Bush corre em busca de nova versão para pacote

Por Patrícia Campos Mello
no Estado de São Paulo

A Câmara americana rejeitou ontem a proposta de lei que autoriza o pacote de US$ 700 bilhões para resgatar o sistema financeiro, provocando caos na bolsa e nos mercados de crédito. Líderes do Congresso pretendem votar uma versão modificada da lei ainda esta semana, mas não há garantias de que conseguirão angariar o apoio necessário.Menos de um terço dos congressistas republicanos, 65, votou a favor da lei, um grande golpe contra o presidente republicano George W. Bush. Ele havia advertido que o pacote era essencial para garantir a estabilidade financeira no país. O plano permitiria ao Tesouro americano usar até US$ 700 bilhões para comprar títulos podres - lastreados em hipotecas inadimplentes - e assim descongelar o mercado de crédito. Mas a 35 dias da eleição, muitos congressistas consideraram que votar a favor do pacote era suicídio político. O resgate dos bancos é altamente impopular entre os eleitores, que o consideram "socorro para banqueiros". Segundo pesquisa do USA Today, só 22% dos eleitores apóiam o plano no formato atual. O presidente Bush se disse "muito decepcionado" com a derrota da legislação, e afirmou que iria se reunir com a equipe econômica para discutir os próximos passos. Ele investiu muito peso político na aprovação do plano. Depois da derrota da lei, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse que continuará trabalhando com o Congresso para passar uma legislação, porque o pacote "é importante demais para falhar". "Precisamos aprovar alguma coisa que funcione o mais rápido possível", disse, esclarecendo que o plano anterior funcionava. O pacote foi proposto há 12 dias por Paulson, que pediu a aprovação rápida da legislação para evitar a paralisação dos mercados de crédito. Depois de uma série de concessões para democratas e republicanos, havia expectativa de que a Câmara aprovaria a lei ontem. A rejeição foi uma surpresa e muitos acusaram a líder da Câmara, Nancy Pelosi, de inabilidade, por deixar que a lei fosse votada sem ter garantido o apoio necessário. Foram 228 votos contra e 205 a favor. Republicanos conservadores acham que o pacote é um atentado contra as leis do livre mercado e o conservadorismo econômico. "Trata-se de um caixão em cima do caixão do Reagan", disse o congressista Darrel Issa. "É um caminho sem volta para o socialismo", afirmou o congressista republicano Jeb Hensearling.Os republicanos culparam a líder Nancy Pelosi pelo fracasso, por ela ter feito um "discurso partidário" antes da votação, com muitas críticas ao governo Bush, o que teria irritado os republicanos. Além disso, eles apontam que Pelosi não garantiu o voto dos democratas mais à esquerda - 95 democratas votaram contra o pacote e 140 a favor. Líderes dos dois partidos prometeram votar um novo projeto de lei ainda nesta semana. "Precisamos renovar nos esforços para achar uma solução que o Congresso possa apoiar", disse o líder da minoria na Câmara, o republicano John A. Boehner. Ele havia chamado a lei de "sanduíche de lama", mas disse que era necessário apoiá-la. Mas os democratas não irão apresentar o projeto novamente sem garantia sólida de apoio dos republicanos. O líder da maioria na Câmara, Steny Hoyer, disse que o Senado pode votar um projeto de lei de pacote de resgate na quinta-feira, e que esse texto poderia depois seguir para a Câmara para ser votado. "Nós não entraremos em recesso enquanto essa questão não for resolvida", disse Hoyer. Ele afirmou que está trabalhando em um consenso com líderes republicanos.Defensores do pacote disseram que quanto mais tempo o país ficar sem a legislação, mais paralisado o mercado de crédito ficará, e empresas terão dificuldades para financiar suas operações. "Quando as conseqüências da inação do Congresso se tornarem claras, os americanos não vão tolerar aqueles que ficaram parados e deixaram a calamidade acontecer", escreveram os líderes da Câmara de Comércio do EUA em carta aos congressistas.O candidato republicano John McCain chegou a se gabar de sua atuação para formar um consenso na votação da lei, antes de o projeto ser rejeitado na Câmara. Depois do fracasso, acusou os democratas e seu rival Barack Obama de terem sido "muito partidários". Já Obama se disse "confiante" na aprovação da lei. "É importante os mercados ficarem calmos, porque as coisas nunca são fáceis no Congresso, mas o trabalho será feito", disse.

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