sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Marta e Kassab recolhem munição pesada para usar no segundo turno

Por Ana Paula Scinocca, Vera Rosa e Marcelo de Moraes
no Estado de São Paulo

Prováveis adversários no segundo turno da sucessão paulistana, Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT) preparam munição pesada para a próxima rodada da disputa. O comando das duas campanhas já trabalha com a perspectiva de recrudescimento dos ataques, terminada a votação do domingo.Convencida de que o PT vai explorar o episódio em que Kassab expulsa de uma unidade de saúde o autônomo Kaiser Celestino da Silva, aos gritos de "vagabundo", a equipe do prefeito já organiza a reação. Coordenadores de sua campanha mandaram selecionar a gravação do bate-boca ocorrido em fevereiro de 2004 quando Marta, à época prefeita, discutiu com a dentista Simone Corrêa, que reclamava das freqüentes enchentes do Córrego Pirajuçara.A cena da ríspida discussão foi usada na campanha de 2004 contra a petista. Na ocasião, Marta perdeu a disputa para José Serra (PSDB), que tinha Kassab como vice. Apesar de alegar que só pretende apresentar propostas, o prefeito também mandou seus assessores deixarem reservada a fita em que Marta, então ministra do Turismo, deu um inusitado conselho aos viajantes.Questionada sobre o que os passageiros deveriam fazer para enfrentar o caos aéreo, em junho de 2007, ela respondeu: "Relaxa e goza." A frase infeliz foi amplamente divulgada, no primeiro turno, pelo programa de Paulo Maluf, candidato do PP.Do outro lado do ringue, o arsenal petista contra Kassab também é bastante variado. A primeira providência do comitê de Marta será associá-lo a Maluf, na tentativa de colar no prefeito os altos índices de rejeição do candidato do PP - hoje na casa dos 53%, segundo o Ibope. Secretário de Planejamento na gestão de Celso Pitta (1997-2000), Kassab apressou-se ontem em minimizar a exploração de seu passado malufista. "Se eu for para o segundo turno, minha preocupação é mostrar minhas realizações e propostas", desconversou.Na nova escalada de ataques, a propaganda de Marta na TV deverá acusar o prefeito de não usar os recursos federais disponíveis para São Paulo, já aprovados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serão apresentados vários exemplos do que os petistas chamam de "inoperância".O principal trunfo do PT contra o candidato do DEM é o Bolsa-Família, considerado a vitrine de Lula. Dados do governo federal recebidos pelo comitê de Marta indicam que 30% das famílias aptas a receber o dinheiro do programa, na capital paulista, não conseguem ser cadastradas, por falta de técnicos da prefeitura. Atualmente, 11 milhões de famílias, em todo o País, são beneficiadas. Elas recebem, em média, R$ 85, mas o valor pode chegar a R$ 182 mensais."Vamos mostrar como os recursos do Bolsa-Família são aplicados na cidade", disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), coordenador da campanha de Marta. "Além disso, lembraremos que o prefeito Kassab não fez corredores de ônibus e o investimento em metrô é uma ficção."Outro programa que enfrenta problemas na capital, segundo o PT, é o ProJovem. São Paulo teria direito a qualificar 20 mil jovens, mas também não conseguiu cadastrá-los. Mais: o Programa de Mobilidade Urbana, que tem o objetivo de promover a articulação das políticas de transporte e trânsito, não saiu do papel.
TERCEIRIZAÇÃO
Tanto no PT como no DEM a ordem é "terceirizar os torpedos", para preservar os candidatos. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), ainda duvida que Marta nacionalize demais o debate, mas tem estratégia para reagir."O eleitor local não quer discutir taxas de juros. Quer saber do buraco de sua rua", afirmou Maia. "De qualquer forma, se Marta nacionalizar a discussão, podemos trazer a crise internacional da economia para o debate: como isso vai refletir na vida do cidadão, como vai aumentar o custo de vida, como vai prejudicar a classe média", completou. "Essa seria uma discussão para depois, mas podemos antecipá-la."O comitê de Kassab também teme a eventual utilização de denúncia contra ele e o secretário da Desburocratização, Rodrigo Garcia. Eles foram investigados pelo Ministério Público Estadual por suposta incompatibilidade entre seus patrimônios e rendas.As investigações abrangeram Kassab, Garcia e as empresas R&K Indústria Gráfica e Editora Ltda., R&K Comércio e Participação Ltda., R&K Engenharia e Empreendimentos Ltda e Centroeste Agropecuária do Brasil Ltda., que já não existem mais. De acordo com as investigações, o patrimônio de Kassab aumentou 316% entre 1994 e 1998.

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