terça-feira, 30 de setembro de 2008

Republicanos culpam a democrata Nancy Pelosi pela derrota

No Jornal do Brasil

Depois de um fim de semana de intensas negociações no Congresso, a aprovação do socorro de US$ 700 bilhões a instituições financeiras dos Estados Unidos era tida como certa. Mas não foi. E, em Washington, a pergunta era: "O que aconteceu?"
Líderes republicanos que pressionaram membros relutantes de seu partido a aprovarem a medida culparam nominalmente a líder da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. O problema, dizem, foi um discurso que a representante da Califórnia fez pela manhã, no saguão da Câmara:
– O número US$ 700 bilhões é enorme, mas é apenas uma parte do custo das políticas econômicas de George Bush, políticas construídas sobre negligências orçamentárias combinadas com uma política de "vale tudo" que nos trouxeram onde estamos hoje – disse Nancy.
Para John Boehner, líder da minoria republicana na Câmara, com este "discurso partidário" Nancy jogou fora o frágil acordo para aprovar o socorro financeiro, porque fez mudarem de idéia "pelo menos uma dezena de republicanos que tinham sido arduamente convencidos a apoiar o pacote" – rejeitado por muitos por usar o dinheiro do contribuinte para salvar instituições que lucram com a especulação de Wall Street.
– Acredito que a segunda-feira teria sido diferente não fosse por este discurso bipartidário – afirmou Boehner.
A medida foi vetada por 228 deputados: 133 republicanos voltaram-se contra o presidente, George Bush, assim como 95 democratas. O socorro recebeu apoio de 140 democratas e apenas 65 republicanos, no que o jornal The New York Times classificou como uma "derrota política catastrófica" para Bush, que na quarta-feira fez um discurso, em horário nobre, no qual deixou claro que "toda a economia dos EUA" estava em risco se o plano não fosse aprovado.
Não adiantou.
No entanto, o democrata Barney Frank, um dos principais negociadores do pacote, recusou a acusação de que a declaração de Nancy tenha sido responsável pela recusa republicana em aprovar o pacote.
– Não é possível que porque alguém os magoou eles tenham resolvido descontar no país – disse. – Não é plausível.
Há ainda quem diga que os "republicanos relutantes" são os mesmos que este mês enfrentaram eleições em seus distritos e não querem se indispor com seus eleitores, insatisfeitos com a possibilidade de pagarem a conta da crise. Na divisão dos US$ 700 bilhões, mais de US$ 2 mil sairá do bolso de cada contribuinte americano.
A líder da Câmara também saiu em defesa própria. Ressaltou que os líderes democratas e republicanos pediram que a maioria dos deputados de cada partido votassem a favor do socorro, mas que "apenas os democratas cumpriram a promessa":
Mas o site Politico.com chamou a atenção para a primeira versão do discurso, distribuída pela assessoria da deputada, na qual constavam trechos deixados de fora por Nancy, quando ela falou no saguão. A prévia, apesar de mencionar "irresponsabilidade fiscal", não citava Bush. "A versão ao vivo foi bem mais incendiária", avaliou o site, que se tornou referência em cobertura das eleições americanas.
Foram quatro horas de debate antes do início da votação, no qual membros dos dois partidos fizeram discursos apaixonados a favor e contra a medida do governo Bush. O pleito começou com os líderes republicanos e democratas alertando aos colegas que "a única maneira de proteger a economia da crise de crédito" era "votar a favor" do pacote. O período de votação ficou aberto por 40 minutos além do prazo de meio-dia, numa tentativa de convencer alguns legisladores que tinham votado "não" de que haveria danos demais ao mercado e que eles deveriam mudar o voto. Depois, mais negociações, a portas fechadas. Não houve sucesso.
E, mesmo que uma nova votação ocorra depois da quinta-feira, ainda não se sabe se o resultado será positivo. Uma fonte contou à CNN que se o pacote atual receber apenas "ajustes", vai continuar sem passar pelos legisladores republicanos, já que alguns itens da lista de propostas, como a suspensão de impostos sobre lucros, não são prioridade na negociação.

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