sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Novela sem final feliz para todos

Por Marcelo Migliaccio
no Jornal do Brasil

Os programas de Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) para o horário eleitoral da TV foram considerados os melhores pelos cientistas políticos ouvidos pelo JB. O público, no entanto, parece não ter gostado de nenhum, como mostram os números de audiência do Ibope aferidos em São Paulo, mas que, segundo a assessoria de imprensa da Rede Globo, são semelhantes aos do Rio. Na transmissão da tarde, a quantidade de aparelhos ligados caiu 17% e, nas noturnas, 12%.
– A propaganda na TV perdeu um pouco da importância no cenário político – analisa o cientista político da Uerj Manuel Sanshes. – Como os discursos e as propostas se parecem muito, o atrativo passou a ser mais a forma que o conteúdo.
Para a sua colega da Uerj Alessandra Aldé, no entanto, a televisão ainda tem peso considerável nas eleições majoritárias. Ela lembra, porém, outros aspectos.
– A TV influi, mas o eleitor está mais morno, não vemos muitos adesivos em carros, por exemplo. Não há grandes paixões – ressalta.
Paulo Baía, sociólogo e professor da UFRJ, achou os programas de Paes e de Gabeira os mais eficazes. O segundo, porém, apenas nos últimos 30 dias.
– Quando Paes, o único que foi competente desde o início, cresceu, Gabeira, Jandira e Crivella mudaram o tom – opina. – Exibiram as propostas com clareza, tentaram se diferenciar.
Alessandra diz que Paes acertou na receita do bolo:
– Ele deu ênfase à sua qualificação pessoal, à união com os governos estadual e federal. O eleitor municipal é muito pragmático, quer saber de melhorias no seu dia-a-dia.

As decepções

Baía diz que sua expectativa era maior em relação ao programa de Alessandro Molon (PT):
– Ele tinha um tempo razoável (4m04s), mas não foi bem na linguagem de TV, nem na do rádio. A eleição se profissionalizou, e a televisão tanto pode ajudar como prejudicar o candidato.
Alessandra acha que outro que saiu-se mal foi Marcelo Crivella.
– Mesmo os que são simpáticos à sua candidatura precisavam de argumentos. Isso já havia acontecido na campanha dele de 2006.
Baía concorda:
– Crivella, que domina o meio televisivo, começou meio deprimido, centrando muito na sua relação com o vice-presidente da República, José Alencar, e com o próprio presidente Lula. Depois, ficou mais desperto.
Alessandra diz que a candidata do PCdoB e o do PT também não aproveitaram bem seus tempos.
– Jandira e Molon tiveram dificuldade com a linguagem televisiva e apostaram nos argumentos éticos e em suas qualidades pessoais. Também usaram muita gravação em estúdio, centrada na imagem do candidato. O problema é que o eleitor acha os discursos muito parecidos e quer que os concorrentes se diferenciem.
Contra Solange Amaral (DEM), Alessandra diz que pesou o continuísmo da administração Cesar Maia.
– O grupo dela está há 16 anos no poder. As pesquisas de intenção de voto mostram que apostar na vinculação com o prefeito não foi uma boa estratégia.
Baía acha que os chamados nanicos também não arriscaram grandes saltos.
– O Chico Alencar fez um programa quase leninista-trotskista. Se ele usasse a visão humanista e uma dinâmica semelhante a dos seus livros, se sairia melhor – argumenta. – Já os candidatos do PCO e do PCB apresentaram na TV um programa de rádio da década de 20.

Folclore da vereança

A campanha para vereador na TV atraiu mais pelo inusitado do que pelas propostas.
– Com a fragmentação do tempo, o eleitor tende a depreciar os candidatos e a se incomodar por achar as aparições e as mensagens rápidas meio ridículas – diz Alessandra. – Vale uma reflexão sobre esse sistema, tanto dos partidos quanto da Justiça Eleitoral.

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