sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Barbosa será relator de processo contra Palocci

Por Felipe Recondo
no Estado de São Paulo

Depois de permanecer praticamente intocado no Supremo Tribunal Federal (STF) por 15 meses, o inquérito aberto para investigar o envolvimento do ex-ministro da Fazenda e deputado Antonio Palocci (PT-SP) com a chamada máfia do lixo de Ribeirão Preto será relatado pelo ministro Joaquim Barbosa.Com essa decisão, o inquérito começa a correr normalmente e o STF poderá apurar se de fato foram cometidos os crimes de formação de quadrilha, falsidade de documentos e lavagem de dinheiro. E só depois dessa investigação os ministros decidirão se abrem ou não ação penal contra o deputado. Na denúncia encaminhada ao STF em 2006, um bloco de 14 mil páginas contendo informações de documentos apreendidos, escutas telefônicas, quebra de sigilo e depoimentos, Palocci é acusado de participar de um esquema de fraudes em licitações para coleta de lixo, superfaturamento de preços e arrecadação ilegal para o PT durante o período em que foi prefeito de Ribeirão Preto. O desvio total apontado nos cofres da prefeitura foi de R$ 30 milhões, entre 2001 e 2004.A denúncia foi entregue à Justiça de Ribeirão Preto, que remeteu o caso ao Supremo, em 2006, porque Palocci tem foro privilegiado. A partir daí, o inquérito encontrou o obstáculo que só foi vencido ontem.O processo foi distribuído inicialmente ao ministro Cezar Peluso, em 29 de novembro. Ele, porém, entendeu que o caso seria de competência de Barbosa, que analisava outra ação que seria semelhante, referente a Ribeirão e Sertãozinho. Por isso, pediu à presidente do STF, ministra Ellen Gracie, que o inquérito fosse repassado ao colega.O pedido foi aceito, mas os advogados de Palocci não queriam que Barbosa, responsável pela abertura da ação penal do mensalão, fosse o relator e pediram a revisão da decisão e o conseqüente encaminhamento do processo para outro ministro. No julgamento desse recurso, em maio de 2007, Barbosa pediu vista do caso e só o devolveu em dezembro para que fosse julgado. Como o tribunal entrou em recesso e Barbosa estava de licença médica, essa minúcia jurídica só foi solucionada ontem.
REVIRAVOLTA
O escândalo do lixo em Ribeirão voltou ao noticiário neste mês, quando o Estado revelou que o advogado Rogério Buratti - personagem da chamada república de Ribeirão e testemunha-chave do Ministério Público no caso - voltou atrás em relação às acusações contra Palocci e o inocentou das irregularidades.Buratti aceitou acordo para ser solto com a condição de colaborar com as investigações. Em um de seus depoimentos, disse que Palocci recebia uma propina mensal de R$ 50 mil - dinheiro que seria repassado para o Diretório Nacional do PT. Em junho do ano passado, porém, Buratti registrou documento em cartório no qual retirou todas as acusações contra Palocci e garantiu que não tem como prová-las. A retratação está a caminho do STF e é considerada pela defesa de Palocci peça importante na tentativa de anular o inquérito do Supremo.

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