sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Israel tem razões para se preocupar, dizem analistas

Por Renata Miranda
na Folha de São Paulo

A tensão entre o Hezbollah e Israel deve aumentar ainda mais depois do anúncio feito ontem pelo líder do grupo xiita libanês, Hassan Nasrallah, de que a organização está pronta para uma “guerra aberta” com o país. No entanto, segundo analistas, apesar de o grupo estar pronto para atacar, dificilmente terá condições de iniciar uma guerra. O Hezbollah culpa Israel pela morte de Imad Mughniyeh, um importante comandante do grupo, na terça-feira em Damasco, na Síria.“Os integrantes do Hezbollah estão furiosos com o que aconteceu e vão querer adotar represálias”, afirmou ao Estado, por telefone, David Schenker, diretor do Programa de Política Árabe do Washington Institute. Para o professor Fawas Gerges, especialista em estudos do Oriente Médio da Faculdade Sarah Lawrence, em Nova York, a ameaça feita pelo grupo xiita foi um tanto exagerada, mas mesmo assim, o governo israelense tem razões para se preocupar. “O Hezbollah vai retaliar de qualquer maneira e a única dúvida é de como e quando isso acontecerá”, afirmou Gerges. “É só uma questão de tempo para os líderes do grupo encontrarem o melhor momento para atacar.”Israel afirma que Mughniyeh esteve envolvido no atentado de 1992 contra a embaixada israelense na Argentina, que deixou 29 mortos, e no ataque contra a Associação Mutual Israelense Argentina (Amia), dois anos depois, que resultou em 85 mostos.Joshua Gleis, pesquisador do Programa de Segurança Internacional da Universidade Harvard, acredita que ataques como os da Argentina podem ser adotados com mais freqüência pelo Hezbollah. “Se o grupo decidir bombardear a fronteira com Israel, outra guerra começará e creio que o Hezbollah não queira entrar em mais um conflito que pode deteriorar mais sua capacidade militar”, disse Gleis, que aponta para o fato de o Hezbollah ser hoje um dos grupos mais poderosos militarmente. “Com a assistência do Irã, eles podem causar muitos danos na região e em outros alvos judaicos pelo mundo.”Segundo Schenker, o Hezbollah conseguiu se reagrupar e reconstruir sua base militar após os conflitos com Israel em meados de 2006, e hoje tem uma rede articulada em vários países pronta para agir. “O Hezbollah é uma organização com extensão global e os israelenses devem ficar preocupados com o que pode vir a acontecer”, disse Schenker. “A organização tem muitas operações prontas para serem executadas.”Gerges acredita que o alerta emitido ontem por Israel às suas embaixadas ao redor do mundo e a outros órgãos com que mantém ligações foi uma sábia decisão, pois as ameaças do grupo xiita não podem ser subestimadas. “Ao longo desses anos, o Hezbollah provou que tem uma máquina militar extremamente letal.”

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