terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cristina promete em posse ênfase na região

Por Rodrigo Rotzsch
na Folha de São Paulo

A primeira mulher eleita presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, tomou posse ontem à tarde com um discurso que pregou a importância da inserção internacional do país, com a América Latina como prioridade."Ontem tive a fotografia que acredito ser a fotografia da nossa história, das nossas origens, de nossos interesses. Ali firmamos a ata de fundação do que espero que seja um instrumento para a transformação econômica e social do nosso povo [o Banco do Sul]. Esta é a nossa casa, a América Latina, que também tem nome de mulher. E que não significa que nos neguemos ao mundo", afirmou.Logo no início do seu discurso de quase uma hora no Congresso, onde fez o juramento como presidente da Argentina, cargo que ocupará até 2011, Cristina definiu a inserção da Argentina no mundo como um dos eixos principais do seu governo. Analistas coincidem em que, devido à difícil situação interna, o antecessor e marido de Cristina, Néstor Kirchner, negligenciou as relações internacionais, à exceção daquelas com a Venezuela.Ontem, Cristina defendeu o ingresso do país de Hugo Chávez no Mercosul, que está pendente de aprovação dos Congressos brasileiro e paraguaio. "O Mercosul é nosso espaço, ao qual esperamos que se associe em breve a Venezuela, para fechar a equação energética da América Latina, porque alimentos e energia serão as chaves do futuro", disse.Ao contrário de outros países, que enviaram vice-presidentes e ministros, os presidentes da América do Sul compareceram em massa à posse -o único ausente foi o peruano Alan García.Embora tenha defendido a integração com a América Latina, Cristina foi dura ao se dirigir ao uruguaio Tabaré Vázquez e insinuar que a crise entre os dois países pela instalação da papeleira finlandesa Botnia às margens do rio Uruguai, que banha os dois países, é culpa exclusiva de Montevidéo."Quero lhe dizer com toda a sinceridade que não vai ter desta presidente um só gesto que aprofunde as nossas diferenças, mas também quero dizer com a mesma sinceridade que esta situação que hoje atravessamos não é culpa nossa."O acirramento do conflito entre Uruguai e Argentina fez com que Vázquez fosse o único presidente ausente, entre os fundadores, do ato de criação do Banco do Sul anteontem. Ele limitou a presença à posse.
Reforma do Judiciário
Além da política internacional, Cristina citou como prioridades de sua gestão a reforma do Poder Judiciário, a conclusão dos julgamentos iniciados no governo Kirchner contra integrantes da última ditadura militar, a educação e o propalado acordo social."Não é um acordo de preços e salários (...) O acordo de que falo é o acordo dos grandes objetivos quantificáveis, verificáveis. E depois iremos por setor e por atividade, analisando qual é mais competitivo, qual pode nos dar mais vantagens, onde se precisa investimento, de inovação tecnológica", disse.Cristina encerrou seu discurso falando a respeito do desafio de uma mulher comandar o país, com referências a Eva Perón e às Mães da Praça de Maio."Sei que talvez me custe mais porque sou mulher. Sempre nos vai custar mais, mas acredito ter a força para poder fazê-lo. Sigo o exemplo, não somente de Eva, que não pôde [chegar a presidente]. Talvez ela o merecesse mais do que eu. Mas também o exemplo de mulheres que com panos brancos se atreveram onde ninguém se atreveu. Vou governar, como tudo que fiz na vida, com minhas convicções, com minhas idéias e sobretudo com meu imenso compromisso com a pátria."

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