quarta-feira, 21 de novembro de 2007

PSDB quer colar em Lula carimbo da 'herança maldita' na eleição de 2010

Por Carlos Marchi
no Estado de São Paulo

Nos próximos dois dias o PSDB dará a largada para as eleições presidenciais de 2010, ao aprovar um novo programa no congresso que realizará em Brasília, juntamente com a convenção nacional que elegerá sua nova Executiva, a ser presidida pelo senador Sérgio Guerra (PE). No documento que embasou o novo programa, o PSDB dá o troco a seu rival histórico, o PT, e declara que o governo Lula deixará a seu sucessor uma herança - “esta, sim, maldita”.O PSDB não aprovará agora a instituição de eleições primárias na escolha dos candidatos a cargos executivos, mas é certo que o mecanismo será testado em 2008 para escolher os candidatos a prefeito de capital, informou o futuro presidente Sérgio Guerra. O partido quer exorcizar de uma vez o dilema de 2006, quando a falta de critérios arrastou a escolha do candidato presidencial por vários meses, constrangendo a direção partidária e os candidatos.“O PSDB não pode mais tomar as suas decisões, sobretudo em torno de candidaturas, de forma centralizada e excludente”, disse o governador de Minas, Aécio Neves, em defesa das prévias.Na herança, o programa tucano afirma que o governo Lula manteve os juros “desnecessariamente elevados”, deixou gastos correntes “correrem soltos”, transferiu a Estados e municípios o esforço por superávits primários e submeteu as agências reguladoras “a uma mistura de estatismo, empreguismo e incompetência” que teria afugentado as parcerias privadas para infra-estrutura. “O PSDB não é privatista nem estatista”, declara.O novo programa, uma nítida plataforma de lançamento do partido para a futura disputa, reclama uma reforma política e apóia a adoção do voto distrital. Aponta corrupção no PT e no governo Lula, defende as privatizações e propõe políticas para promover o crescimento econômico. “Nos últimos cinco anos o Brasil cresceu menos que a média do mundo, menos que todos os outros países da América Latina, exceto o Haiti, e muito menos que os demais países emergentes”, acusa.O documento - redigido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo deputado José Aníbal (SP) e pelo assessor Eduardo Graeff - afirma que a falta de crescimento é resultado de “erros da política macroeconômica”. Sobe o tom para afirmar que o Brasil “vive dias de improvisação, visão de curto prazo, aceitação de baixas expectativas, administração negligente e bazófias autocentradas”. “Confunde-se interesse popular com exaltação do vulgar, e interesse nacional com retórica estatizante.”O texto pede “mais governo e mais mercado” para dar a “arrancada do desenvolvimento”. Faz firme defesa das privatizações do governo FHC e argumenta que sem os capitais privados teria sido impossível expandir as indústrias petroquímica, aeronáutica, siderúrgica, de mineração e os serviços de telefonia e energia elétrica.
JUVENTUDE
“Estamos fazendo um partido forte para ganhar as eleições de 2010”, afirmou o deputado Jutahy Júnior (BA), ex-líder do partido na Câmara. Já Aníbal destacou que o novo programa vai ajudar o PSDB a se enraizar na sociedade: “Nos últimos dez anos entrou em cena o cidadão informado, que quer atuar nas questões políticas.”O novo secretário-geral será o jovem deputado Rodrigo de Castro (MG), de 36 anos, que ocupará seu primeiro cargo político de relevo. Filho do secretário de Governo de Minas, Danilo de Castro, Rodrigo foi indicado por Aécio. O governador José Serra não indicou ninguém, mas aliados dizem que ele confia no futuro presidente da legenda.Guerra construiu pacientemente sua ascensão no PSDB. Antes de ingressar no PSDB, esteve no PMDB, no PDT e no PSB; foi secretário do governo Miguel Arraes (PSB) e, depois, do governo Jarbas Vasconcelos (PMDB). Em 2006, coordenou a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência. A partir daí, se transformou num ponto de equilíbrio do partido, confiável a todos e eqüidistante de Serra e Aécio, potenciais presidenciáveis do partido em 2010.Além de Guerra e Castro, a Executiva terá outros nomes novos. Ontem à tarde o partido ainda discutia composições, mas estava praticamente certo que o deputado Gustavo Fruet (PR) será um dos vice-presidentes, assim como a senadora Marisa Serrano (MS).Enquanto a Executiva será composta por consenso, até ontem à tarde a presidência do Instituto Teotônio Vilela, o centro de estudos do PSDB, era objeto de uma ferrenha disputa entre os deputados Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), ligado a Serra, e Paulo Renato Souza, vinculado a FHC. Paulo Renato tem oferta de ser vice-presidente se desistir da disputa.

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