quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Lula e o discurso de que "uzricu" desprezam "uzpobri"

Por Angela Pinho
na Folha de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou ontem, em discurso no Dia da Consciência Negra, que quando o governo faz algo que beneficia os pobres gera "ciumeira"."Toda vez que a gente tenta ajudar os mais pobres, aparece uma ciumeira. As pessoas não estão perdendo nada, só não querem que os pobres cheguem igual a eles", disse em cerimônia no Palácio do Planalto que contou com a presença de quilombolas, militantes do movimento negro e diversos ministros, entre eles Gilberto Gil (Cultura), Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e Orlando Silva (Esporte).Lula mencionou uma possível discriminação que estariam sofrendo os alunos do Prouni, programa em que o governo dá bolsas para alunos carentes em universidades privadas."Eu sei que já tem universidade no Brasil em que companheiros negros estão sendo admoestados porque são negros e estão estudando de graça, e do lado tem um branco, como eu, pagando. Isso cria fissura." Ele atribuiu o fato a uma "questão cultural". "É uma questão que está impregnada no nosso cérebro e isso leva tempo para mudar, leva muita conversa, não é uma coisa do dia para a noite."Referindo-se aos ataques à política de cota racial, encampada por seu governo, disse que "as pessoas da boca para fora são todas democráticas, todas igualitárias, tudo é moderno, mas, na hora em que chega na partilha do pão, tem cara que quer mais pão que o outro, não quer dividir, não quer repartir".Ele chamou de conservadores os críticos do programa de expansão das vagas em universidades federais -os setores do movimento estudantil que atacam o projeto afirmam que a expansão, da forma como está sendo feita, comprometerá a qualidade do ensino."Tem gente que não quer [aumento de vagas] por quê? Porque neste país tem gente que já comeu ou está comendo, e aí fala: "Dane-se aquele que não comeu". Para que pobre quer entrar aqui? Para que tem que ter curso à noite?" Lula chamou esses críticos de "companheiros com posições que parecem esquerdistas, mas que são mais conservadores do que o mais conservador do mundo".O presidente condenou as divisões no movimento negro, que apontou como um dos motivos da demora da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso. "Se entra uma turma pela Câmara, a outra pelo Senado, uma brigando com a outra, é tudo que um político deseja: não se meter em encrenca dos outros."Ele disse aos militantes do movimento negro na platéia que eles têm que cobrar mais o governo. "Aproveitem que tenho três anos de mandato e cobrem", afirmou. "Quanto mais vocês cutucarem a Matilde, mais ela vai me cutucar e a somatória dessa "cutucação" é que vocês vão ter mais conquistas até o final do nosso mandato."Lula anunciou um pacote de medidas para remanescentes de quilombos nas áreas de saúde, educação e demarcação e titulação de terras. As ações receberão R$ 2,1 bilhões.

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